No
meu último artigo aqui no literalMENTE falei da repetição e agora, motivado por filme que assisti nesse intervalo de 15 dias continuarei com esse tema. Ando percebendo que o cinema, nos últimos anos, tem se mostrado pouco criativo, embora que possa
citar uma ou outra exceção. Confesso que hoje para assistir a filmes, prefiro que tenham previamente me recomendado ainda assim demoro-me, protelo – o passar do tempo me deixou impaciente e duas horas de filme soa-me como perda de tempo. prefiro perder tempo lendo, conservo a teimosa ideia de que os filmes são inferiores aos
livros – sei que é um equívoco.
O
filme que assisti é pouco conhecido das pessoas e seu título é pouco atraente – “Cópia Fiel” de Abbas Kiarostami diretor que guarda alguns premios. Do filem não escutei comentários - nem contra nem a favor. Talvez para o cinéfilo, esse filme seja não só conhecido, mas obrigatório - estou longe desse lugar. O filme tem um enredo que, de
início, parece comum – faz lembrar aquela trilogia “Antes do Amanhecer” em versão menos juvenil ou européia e mais iraniana, haja vista
seu diretor. Mas não é só isso: nos primeiros minutos de exibição, observa-se que se vai dissolvendo o lugar-comum e o roteiro adentra em território de eventos surpreendentes –
tive sensação semelhante quando assisti, há muitos anos, à "Uma Simples
Formalidade” que me tirou de um longo tédio e me atirou no susto nos seus minutos finais. Digamos que em “Cópia Fiel” essa virada ocorre gradativamente..
O filme tem boa, ou melhor ótima, locação: a Itália, a região da Toscana e a fotografia é maravilhosa. Narra um encontro inusitado entre um filósofo-escritor - que viera lançar um livro na Itália - e uma mulher, dona de uma galeria de artes. O título do livro é justamente o título do filme: “Cópia Fiel”. O livro desenvolve, com erudição, o tema do “original” e a da “cópia” como caprichos da sociedade moderna-contemporânea, citando como exemplos as obras de arte. Segundo o autor/personagem, a ideia de originalidade cai por terra, na medida em que as criações são sobreposições de criações anteriores. Discute-se o “original” e a “cópia” como influência e/ou como falsificação e, entre essas duas condições, várias repetições. O filme poderia ser resumido com a famosa frase de Millôr Fernandes de que "nascemos originais e morremos plágio". No diálogo-passeio estabelecido pelo casal, se propõe que a ideia de estudar a cópia fiel está além de uma escolha acadêmica. Escolhemos temas de acordo com nossas faltas e repetições e é justamente das faltas que vem o desejo. O filme faz lembrar que mesmo que tentemos nos distanciar de nossas escolhas, caímos em armadilhas do desejo. Como disse Francoise Dolto: "no jogo do desejo as cartas são marcadas e os dados viciadas".
O
filme também me fez lembrar o livro de Jensen “Gradiva” que foi analisado minuciosamente por Freud e que se fez referência ao círculo que fazemos e
percorremos para cair mais ou menos no mesmo lugar. Mesmo o
mais sábio dos sujeitos cai em armadilhas tão convencionais que se surpreendem com a repetição.
Marcos Creder
Obs:
observei que a leitura desse artigo acima poderá ser prejudicada na
compreensão. Preferi manter as imprecisões a ter que contar o filme. Falar mais
seria dar spoiler.
Um comentário:
Esse tema da repetição é surpreendente, pois em tudo podemos observar.
Então o que há de original nessa vida? bom tem que ter havido um início.
Mas eu pessoalmente não procuro mais por nada original, acho que encerrei esse capítulo.
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