Conjugalidade é a construção de uma vinculação entre dois indivíduos independentes. Vínculo conjugal não é sinônimo de apenas coabitação, mas sim uma espécie de liame ou laço afetivo que liga duas pessoas. A conjugalidade, como já dito em aulas anteriores, resulta da construção de um terceiro elemento; o casal. A formação de um casal se faz na combinação de duas individualidades (dois sujeitos) que no espaço da intimidade interrelacional geram uma conjugalidade, ou seja, um desejo conjunto, uma história conjugal, um projeto de vida a dois, uma identidade conjugal. Sabe aquela história de "um por todos e todos por um"? Pois é, em seu livro Psicanálise do Casal (ed. Artes Médica), Puget e Berenstein assim conceitualizam vínculo como uma estrutura de três termos, constituída por dois pólos, os dois egos e um conector (ou intermediário) que liga ambos. Assim sendo a identidade conjugal emerge da relação conjugal - o que Caillé chama de "absoluto do casal".
O físico moçambicano Alexandre Quitanilha diz que “a identidade não se descobre, constrói-se. Essa é a parte difícil.". Sim, transmutar a subjetividade na conjugalidade não é algo mágico, rápido ou que seja fácil e não implique em algumas renúncias e sacrifícios. Não é fácil principalmente porque a subjetividade das pessoas envolvidas tende a querer repetir a remota experiência narcísica de uma relação perfeita e simbiótica, que foi idealisticamente a relação do bebê com seu primeiro objeto relacional, isto é, a mãe. Aquele antigo e primitivo "nós" ilusoriamente simbiótico (vide post aula sobre PAIXÃO x AMOR) tende a se transferir inconscientemente para o par conjugal. Como diz o sociólogo alemão Georg Simmel, em sua obra Filosofia do Amor (ed. Martins Fontes) no amor há uma condição trágica que promove, entre os sujeitos, a necessidade de fundir-se com a pessoa amada, de modo a constituírem uma só pessoa. Tal expectativa idealizada e superexigência provoca tensão, tensão entre o objeto amado idealizado e objeto amado real.
O amor não é um afeto puro que sentimos de maneira passiva (como se flechado por um cupido), mas sim uma prática e atividade social. Neste sentido e contexto a comunicação entre os membros do casal é fundamental tanto para a intimidade quanto para a interação conjugal. Terezinha Féres Carneiro, pós-doutorada em psicoterapia de família e casal, afirma que a intimidade "para ser alcançada depende, essencialmente, da igualdade entre os parceiros e da comunicação emocional de cada um consigo mesmo e com o outro". Isto implica, entre outras coisas, no desenvolvimento e ajustamento de hábitos e funções, assim como o estabelecimento e a manutenção de novas relações sociais (amigos) e familiares (família de origem do cônjuge/companheiro).
Cada casal é um casal, único e singular, isto é, o modo como cada um dos personagens do casal lida com seus conflitos, traumas, superações e tarefas outros do processo de amadurecimento, tem impacto significativo no nível da qualidade conjugal e sua satisfação. É atualmente amplo os estudos sobre o assunto, principalmente devido a sua complexidade e variedade de contextos. No âmbito reduzido do presente blog cabe-nos neste momento indicar algumas leituras complementares a respeito:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cclin/v9n1/v9n1a04.pdf
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/7791/7791_5.PDF
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/25533/25533_3.PDF
Boas leituras e bons estudos
Joaquim Cesário de Mello
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