quinta-feira, 6 de setembro de 2018

DIÁRIO DE AULA - CICLO DE VIDA


CICLO DE VIDA FAMILIAR
PRIMEIRA PARTE

Ao longo do tempo a família sofre inúmeras e várias transformações. Tudo que é vivo um dia nasceu, cresceu e haverá de morrer. Considerando a família como um sistema ativo, analogamente a um organismo vivo, ela também nasce, cresce e morre. Talvez nos seja muito difícil vermos o ciclo de vida de uma família extensa ou ampliada, porém o mesmo não ocorre com a família nuclear. E é sofre o ciclo de vida da família nuclear que dedicaremos nossas próximas palavras e textos.





Um dos mais clássicos livros sobre família – daqueles que se deve ter em qualquer biblioteca de um profissional do campo da saúde mental – é o livro AS MUDANÇAS NO CICLO DE VIDA FAMILIAR, de Betty Carter e Monica McGoldrick, publicado no Brasil pela editora ARTMED. Com base nele é que desenvolvermos o assunto ora em pauta. Vide o seguinte link que reproduz o capítulo I do citado livro: http://srvd.grupoa.com.br/uploads/imagensExtra/legado/C/CARTER_Betty/As_Mudancas_Ciclo_Vida_Familiar_2Ed/Liberado/cap_01.pdf
                Como bem destacou Erik Erikson, no tocante ao desenvolvimento pessoal, as etapas evolutivas são períodos adaptativos e, por isto mesmo, períodos de crise: crise adaptativa. Há ao longo da vida de um indivíduo crises que são normativas, visto que são crises normais, que fazem parte do desenvolvimento humano, tipo a crise da adolescência. Já há outras crises adaptativas que não são normais como, por exemplo, perda de emprego ou a perda dos pais na infância. Estas são chamadas de crises acidentais: podem acontecer ou não.
      Socialmente falando a família nuclear se inicia com a união conjugal. Lembremos que família nuclear, como aqui estamos trabalhando, é aquele fundada na conjugalidade. O casamento, ou a união conjugal, não somente forma um novo casal no pedaço, mas também representa a união entre duas famílias. Engana-se aqueles que achar que um casamento é uma coisa fácil. Casar pode até ser fácil, todavia continuar casado requer inúmeras tarefas adaptativas que o casal terá pela frente na formação e consolidação do sistema marital.
         Talvez quem nunca casou ainda possa alimentar que o ajustamento entre os cônjuges seja tarefa fácil. Um casamento requer que duas pessoas renegociem juntas uma gama de questões, grande parte delas advindas das famílias de origem de cada um (cultura familiar). Pode-se namorar anos a fio, cinco, sete, nove, dez... porém, quando se casa (morar juntos, dividir cotidiano, despesas e tarefas domésticas) alguns casais não se sustentam. Entra aquela tal de “incompatibilidade de gênios”.
                E não é somente o ajustamento entre os parceiros do casal. Existem igualmente a renegociação referente os relacionamentos com os demais da família ampliada (pais, irmãos) e até com amigos pessoais. Como escreve Carter e McGoldrick (obra citada acima): “às vezes, a incapacidade de formalizar, no casamento, um relacionamento de casal, quando as duas pessoas estão morando juntas, indica que elas ainda estão muito emaranhadas com suas próprias famílias para definirem um novo sistema”. Sabe aquela expressão popular que diz que a sogra deve ficar a uma média distância do casal, a ponto que não fique “nem tão perto que venha de chinelos, nem tão longe para que traga uma mala”.

               A próxima etapa adaptativa frequentemente é o surgimento de filhos. Agrega-se à  conjugalidade agora a progenitura. O sistema conjugal deve se ajustar para criar um espaço físico e afetivo para a chegada dos filhos. Há um novo realinhamento em questão: incluir os pais da família de origem de cada cônjuge no novo papel que é o de avós. É necessário que estes saibam passar para um papel secundário e com isto permita aos filhos assumirem a autoridade inerentes a seus papéis paternais. Outra vez não nos iludamos: o nascimento de um filho, embora até desejado e programado, desequilibra de alguma forma a homeostase do casal que agora não é mais uma díade e sim uma tríade.
          Virar pai e/ou mãe é, sem sombra de dúvida, um momento marcante no ciclo de vida pessoal e familiar. Inúmeras alterações ocorrerão, inclusive na própria personalidade dos sujeitos envolvidos. Uma nova realidade descortina-se e eles devem fazer frete a tais mudanças. Sacrifícios e renúncias deverão ser feitas, principalmente quanto ao campo de vida social, bem como haverá de ser efetivar adequações psicológicas fundamentais. Não é raro, por exemplo, pais que se sentem como que excluídos daquela relação tão primária que é a relação mãe-filho. Faz-se, portanto, igualmente preciso encontrar um novo espaço para ele no âmbito desta nova família inicialmente a três.
                Para quem deseja aprofundar o tema oriento dá uma olhada no seguinte texto: PATERNIDADE: VIVÊNCIA DO PRIMEIRO FILHO E MUDANÇAS FAMILIARES (http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872011000100011&script=sci_arttext)

             Os filhos crescem e com eles diminuem a importância e a autoridade dos pais. Quando bem pequenos eles são dependentes absolutos do ambiente familiar. Crescidos vão ficando cada vez menos dependentes. E eis que chega a adolescência, momento crítico por excelência. Talvez a principal tarefa adaptativa seja a de modificar a relação pais e filho(a) com vistas a possibilitar ao adolescente movimentar-se paulatinamente para fora do sistema familiar (leia-se fora como maior autonomia frente à família de origem dos mesmos).
                Paralelamente a independização dos filhos, os próprios pais geralmente enfrentam a crise da meia-idade, bem como os avós estão se fragilizando com o passar dos anos. Os pais, por sua vez, começam uma nova etapa de vida que é a de começar a cuidar da geração mais velha.
                Fica aqui mais uma sugestão de leitura: FAMÍLIA E ADOLESCÊNCIA: A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO FAMILIAR NO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DOS SEUS MEMBROS (http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a05.pdf).
                 E ainda quem quiser aprofundar-se mais na temática vai aí um ótimo livro sobre o assunto: 


continua abaixo

Joaquim Cesário de Mello