CICLO DE VIDA FAMILIAR
PRIMEIRA PARTE
Ao longo do tempo a
família sofre inúmeras e várias transformações. Tudo que é vivo um dia nasceu,
cresceu e haverá de morrer. Considerando a família como um sistema ativo,
analogamente a um organismo vivo, ela também nasce, cresce e morre. Talvez nos
seja muito difícil vermos o ciclo de vida de uma família extensa ou ampliada,
porém o mesmo não ocorre com a família nuclear. E é sofre o ciclo de vida da
família nuclear que dedicaremos nossas próximas palavras e textos.
Um dos mais clássicos livros sobre família – daqueles que se deve ter em qualquer biblioteca de um profissional do campo da saúde mental – é o livro AS MUDANÇAS NO CICLO DE VIDA FAMILIAR, de Betty Carter e Monica McGoldrick, publicado no Brasil pela editora ARTMED. Com base nele é que desenvolvermos o assunto ora em pauta. Vide o seguinte link que reproduz o capítulo I do citado livro: http://srvd.grupoa.com.br/uploads/imagensExtra/legado/C/CARTER_Betty/As_Mudancas_Ciclo_Vida_Familiar_2Ed/Liberado/cap_01.pdf
Como bem destacou Erik Erikson,
no tocante ao desenvolvimento pessoal, as etapas evolutivas são períodos
adaptativos e, por isto mesmo, períodos de crise: crise adaptativa. Há ao longo
da vida de um indivíduo crises que são normativas, visto que são crises
normais, que fazem parte do desenvolvimento humano, tipo a crise da
adolescência. Já há outras crises adaptativas que não são normais como, por
exemplo, perda de emprego ou a perda dos pais na infância. Estas são chamadas
de crises acidentais: podem acontecer ou não.
Socialmente falando a família
nuclear se inicia com a união conjugal. Lembremos que família nuclear, como
aqui estamos trabalhando, é aquele fundada na conjugalidade. O casamento, ou a
união conjugal, não somente forma um novo casal no pedaço, mas também
representa a união entre duas famílias. Engana-se aqueles que achar que um
casamento é uma coisa fácil. Casar pode até ser fácil, todavia continuar casado
requer inúmeras tarefas adaptativas que o casal terá pela frente na formação e
consolidação do sistema marital.
Talvez quem nunca
casou ainda possa alimentar que o ajustamento entre os cônjuges seja tarefa
fácil. Um casamento requer que duas pessoas renegociem juntas uma gama de
questões, grande parte delas advindas das famílias de origem de cada um
(cultura familiar). Pode-se namorar anos a fio, cinco, sete, nove, dez...
porém, quando se casa (morar juntos, dividir cotidiano, despesas e tarefas
domésticas) alguns casais não se sustentam. Entra aquela tal de “incompatibilidade
de gênios”.
E não é somente o ajustamento
entre os parceiros do casal. Existem igualmente a renegociação referente os
relacionamentos com os demais da família ampliada (pais, irmãos) e até com
amigos pessoais. Como escreve Carter e McGoldrick (obra citada acima): “às vezes, a incapacidade de formalizar, no
casamento, um relacionamento de casal, quando as duas pessoas estão morando
juntas, indica que elas ainda estão muito emaranhadas com suas próprias famílias
para definirem um novo sistema”. Sabe aquela expressão popular que diz que
a sogra deve ficar a uma média distância do casal, a ponto que não fique “nem
tão perto que venha de chinelos, nem tão longe para que traga uma mala”.
A próxima etapa
adaptativa frequentemente é o surgimento de filhos. Agrega-se à conjugalidade agora a progenitura. O sistema
conjugal deve se ajustar para criar um espaço físico e afetivo para a chegada
dos filhos. Há um novo realinhamento em questão: incluir os pais da família de
origem de cada cônjuge no novo papel que é o de avós. É necessário que estes
saibam passar para um papel secundário e com isto permita aos filhos assumirem
a autoridade inerentes a seus papéis paternais. Outra vez não nos iludamos: o
nascimento de um filho, embora até desejado e programado, desequilibra de
alguma forma a homeostase do casal que agora não é mais uma díade e sim uma
tríade.
Virar pai e/ou mãe é,
sem sombra de dúvida, um momento marcante no ciclo de vida pessoal e familiar.
Inúmeras alterações ocorrerão, inclusive na própria personalidade dos sujeitos
envolvidos. Uma nova realidade descortina-se e eles devem fazer frete a tais
mudanças. Sacrifícios e renúncias deverão ser feitas, principalmente quanto ao
campo de vida social, bem como haverá de ser efetivar adequações psicológicas fundamentais.
Não é raro, por exemplo, pais que se sentem como que excluídos daquela relação
tão primária que é a relação mãe-filho. Faz-se, portanto, igualmente preciso
encontrar um novo espaço para ele no âmbito desta nova família inicialmente a
três.
Para quem deseja aprofundar o
tema oriento dá uma olhada no seguinte texto: PATERNIDADE: VIVÊNCIA DO PRIMEIRO
FILHO E MUDANÇAS FAMILIARES (http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872011000100011&script=sci_arttext)
Os filhos crescem e
com eles diminuem a importância e a autoridade dos pais. Quando bem pequenos eles são dependentes absolutos do ambiente familiar. Crescidos vão ficando cada
vez menos dependentes. E eis que chega a adolescência, momento crítico por
excelência. Talvez a principal tarefa adaptativa seja a de modificar a relação
pais e filho(a) com vistas a possibilitar ao adolescente movimentar-se
paulatinamente para fora do sistema familiar (leia-se fora como maior autonomia
frente à família de origem dos mesmos).
Paralelamente a independização
dos filhos, os próprios pais geralmente enfrentam a crise da meia-idade, bem
como os avós estão se fragilizando com o passar dos anos. Os pais, por sua vez,
começam uma nova etapa de vida que é a de começar a cuidar da geração mais
velha.
Fica aqui mais uma sugestão de
leitura: FAMÍLIA E ADOLESCÊNCIA: A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO FAMILIAR NO
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DOS SEUS MEMBROS (http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a05.pdf).
continua abaixo
Joaquim Cesário de Mello
Um comentário:
Excelente aula!!
Postar um comentário