CICLO DE VIDA FAMILIAR
ÚLTIMA PARTE
Como dizíamos antes (texto próximo acima) os filhos crescem. Crescendo chegam à adolescência e depois se tornam eles
mesmo adultos. Como adultos é esperado que eles também queiram fazer suas
carreiras profissionais, buscarem sua independência financeira e formar sua
própria família nuclear. Chamamos esta importante etapa do ciclo de vida
familiar de “saída dos filhos de casa”. Carter e McGoldrick (obra citada no post
anterior), por sua vez, denominam de “lançando os filhos e seguindo em frente”.
A saída dos filhos de casa representa a célebre crise chamada de "ninho vazio". O casal encontra-se,
assim, de novo a sós, tal como no início da formação familiar. Podemos,
inclusive, afirmar que é uma etapa de vida caracterizada por novas descobertas,
conflitos e definições ou redefinições. É como se fosse um novo casamento, só
que agora fincado na elaboração do luto da “perda” dos filhos. Dentro da crise
do ninho vazio temos os confrontos com a finitude da vida. Novos valores e prioridades
podem surgir. Sugerimos aprofundar em: http://dv.fosjc.unesp.br/elizete/downloads/Livro_Ciclo_vital*livro_Ciclo_Vital_parte_2.pdf
O casal agora sem filhos
coabitando é um casal que se reencontra, livre das obrigações e tarefas
parentais. Sentimentos e afetos ambivalentes podem predominar, tais como
liberdade e vazio da perda. Uma nova realidade se faz presente ao casal.
Destaque há de se dar a esta
etapa na maneira como os filhos afetivamente saem de casa. Sair de casa aqui
não é mudar de endereço, é se desligar psicologicamente dos pais infantis. Como
descreve Carter e McGoldrick, ao adulto jovem inicia-se um novo ciclo pessoal e
familiar de vida “cujo encerramento da tarefa
primária de chegar a um acordo com sua família de origem influencia
profundamente quem, quando, como e se eles vão casar, e como executarão todos
os outros estágios seguintes do ciclo de vida familiar”. Sobre isto e sua
fundamental importância retornarei logo abaixo.
Chegamos, então, a última etapa de vida do ciclo familiar que está relacionada ao estágio tardio da vida. Os pais envelheceram, os pais destes já não mais existe, aliás não há mais uma geração anterior a morrer. É momento, pois, de aceitar as mudanças nos papéis geracionais, entre eles manter os interesses próprios e/ou do casal em face ao declínio físico e as limitações da idade avançada. Os filhos precisam abrir espaços em suas vidas para apoiar à geração mais idosa. É um período de perdas (amigos, parentes, cônjuge), mais também de revisão de vida e integração de ego. Vide: "Ciclo vital da família e envelhecimento: contextos e desafios", de Maria Henriqueta de Jesus Silva Figueiredo e outros, www.researchgate.net/...envelhecimento.../0deec51f401529c1be000000
Após a morte do último cônjuge,
acaba-se aquela família nuclear que começou lá atrás na união do casal. E a
vida continua, assim como as outras família nucleares e seus novos ciclos de
vida familiar.
Cabe aqui um
esclarecimento. O ciclo de vida familiar compreendendo desde a formação do
casal, passando pelo nascimento do(s) filho(s), crescimento dos mesmo,
adolescência, saída dos filhos de casa, velhice dos cônjuges e morte do último
cônjuge, representa a evolução da família nuclear do ponto de vista social. Do
ponto de vista psicológico, ou mais precisamente do ponto de vista
psicoafetivo, temos uma complexidade peculiar.
Psicológica e afetivamente
falando a família nuclear não se inicia com a união conjugal, mas sim com a
saída dos filhos de casa. Como assim? Vejamos. A forma e maneira como os filhos
vão se desapegando dos pais (lembremos que inicialmente a ligação do bebê com a
mãe tem forte caráter fusional e simbiótico), isto é, vão diminuindo sua
idealização dos mesmos, bem como sua dependência psicológica, muito
influenciará ou até mesmo determinará os futuros apegos afetivos. A formação de
um novo casal pode ter significativas marcas dessa passagem da endogamia para a
exogamia. Muito do como amamos e queremos ser amados tem resquícios de nossos
primeiros vínculos amorosos (pais). E é neste sentido que o lançamento dos
filhos para o mundo extrafamiliar inaugura, psicologicamente, o começar da
futura família nuclear que este irá criar conjugadamente a seu parceiro(a) e
este(a) com ele também. Afinal, não é tão difícil assim observarmos algumas
pessoas que mesmo crescidas, trabalhando, com independência financeira, casadas
e até com filhos, mantendo um laço muito estreito com sua família de origem a
ponto de continuarem emocionalmente dependente dos pais. Ou até pessoas que
transferem sua dependência filial para os atuais cônjuges, a ponto de estes
poderem chegar a dizer algo do tipo “eu não sou sua mãe”.
A fase do jovem adulto é um marco , pois requer que o jovem adulto se separe da
família de origem sem romper relações ou fugir reativamente dela para uma
espécie de refúgio emocional substituto.
Quanto mais satisfatoriamente se diferenciarem emocionalmente da família de origem , melhores serão as chances de enfrentarem os ciclos de vida em sua nova família de maneira autônoma. Um filho que sai de casa emocionalmente mais maduro pode melhor escolher o que levará emocionalmente de sua família de origem, o que não levará e aquilo que ele construirá sozinho com seus novos parceiros afetivos.
Quanto mais satisfatoriamente se diferenciarem emocionalmente da família de origem , melhores serão as chances de enfrentarem os ciclos de vida em sua nova família de maneira autônoma. Um filho que sai de casa emocionalmente mais maduro pode melhor escolher o que levará emocionalmente de sua família de origem, o que não levará e aquilo que ele construirá sozinho com seus novos parceiros afetivos.
Joaquim Cesário de Mello
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