Não sou psicólogo, sequer psicanalista, mas gosto dos texto freudianos. São de leituras agradáveis, interessantes, ganham muitas vezes o sabor da narrativa de ficção - os relatos de caso não são insípidos impõe neutralidade que os relatos de casos da medicina em geral. pois na psicanálise o o examinador também é personagem. Sabemos que Freud admirava e, por que não dizer, invejava dos escritores. Harold Bloom e Pontalis disseram que a inveja de Shakespeare, por exemplo, fez com que Freud infantilmente acreditasse na lenda de que o dramaturgo inglês jamais teria escrito suas peças de teatro. Essa suposição freudiana é uma fantasia, aliás fantasia boba para quem desenvolveu teorias tão complexas.
A psicanálise tem um sem número de adversários e de opositores, mas não se questiona, nessas tensões, a habilidade de Freud com a escrita. Freud foi escritor, aliás, um excelente escritor. Ganhou o prêmio Goethe de Literatura , mesmo que no íntimo julgasse que merecesse o Nobel. A boa escrita de Freud fez com que sua teoria ganhasse vulto e se disseminasse no meio acadêmico e literário - a influência da psicanálise nos saberes do século XX é evidente. Sua teoria é encantadora, diria genial, e sua escrita maravilhosa. Mas eis que chegaram os seus sucessores que, na tentativa de superar o Pai, criaram novos conceitos, complexos textos. Francamente, a maioria dos grandes psicanalistas pós-freudianos foram escritores medíocres, agravados ainda mais pelas traduções sofríveis. Há em toda área do conhecimento um pedantismo que quer manter um figuraço no lugar de mestre - algo parecido com que Machado de Assis chamou de medalhão. Como numa seita religiosa o mestre tem o dom da palavra, palavras que são escritas ou proferidas de maneira ambígua, em tom metafórico e ainda, seguindo o padrão religioso, trazem um dizer por parábolas para os seus seguidores. Com uma ou outra exceção, os sucessores de Freud se colocaram nesse lugar de donos de saberes fechados, complexos, “eruditos”, com conceitos rebuscados. Na verdade textos mal escritos..Observo isso também na medicina. O médico usa muito do seu dialeto por necessidade técnica e por vaidade e preciosismo, uma das necessidades mais importantes é se manter nesse lugar divinificado das palavras difíceis e indecifráveis. Na psicanálise mesmo que haja o deciframento, há ainda os aspectos polissêmicos do dizer, fator que protege, ainda mais, analistas embusteiros. Muitos psicanalistas equivocadamente imaginaram que trouxeram a verdade do inconsciente e, assim como uma cartomante, podem revelar verdades ambíguas. Algo do tipo: Se Freud Explica, Eu explico. Na verdade, Freud nunca explicou nada, nem foi esse seu projeto. Talvez a frase mais adequada, guardando ressalvas, fosse "Freud Interpreta" - sabendo que a interpretação é sobredeterminada, ou seja, não há a interpretação no singular, mas as interpretações.
O psicólogo cognitivista norte-americano Steven Pinker diz que nada mais difícil que escrever uma teoria de forma simples. Segundo ele, a maioria das pessoas da academia sofrem do que chamou da "maldição do conhecimento". A crença de Pinker é de que por dificuldades cognitivas, os teóricos se fazem menos compreendidos. Concordo e acrescento: além dessas questões cognitivas, há também uma espécie de vaidade ou de charme em se mostrar complexo. Os cientistas ou os pensadores não querem suas teorias vendidas nos sinais de trânsito ou nos programas de rádio ou televisão. Daí que surgem os gurus da erudição e seus discípulos, que nada mais fazem do que uma cartomante ao se utilizar de jogos de palavras, para revelar o óbvio.
Dificilmente encontramos autores que dizem algo além do óbvio. Alguns autores me veem a mente. falarei Mais adiante
Marcos Creder
Marcos Creder
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