Quero
falar um pouco sobre a maturidade da mente. Embora amadurecer, em termos
psicológicos, pra mim, deva sempre ser um verbo a ser conjugado no gerúndio, a
passagem de uma mente puramente infantil para um mente adultificada é uma longa
jornada. Alguns, inclusive, nunca chegam até lá.
De início somos ilusoriamente grandiosos, onipotentes, completos e perfeitos. Ledo engano da alma humana em seu estágio mais primitivo e infantil. Embora não fale, pois no início não era o verbo, o psiquismo se sente. E se sente, por imaturidade absoluta, como se ele mesmo fosse tudo, afinal o mundo externo ainda não existe no campo perceptivo da mente humana. Através das experiências e das vivências o Princípio de Realidade vai se impondo mente adentro. Podemos dizer que a o psiquismo vai sendo invadindo pelo mundo, diferenciando, assim, o interno do externo.
O amadurecimento biológico antecede ao
amadurecimento psicológico. Somos, por exemplo, capazes de procriar a partir e
depois da puberdade, porém isso não quer significar que estamos
psicologicamente preparados para sermos pais. O maturar do corpo nos leva a nos
tornarmos um organismo reprodutivo. Geralmente estamos totalmente crescidos em
torno dos 20 anos de idade (os músculos ainda se desenvolvem por mais 10 anos
aproximadamente) e assim continuamos até chegar entre os 40/50 anos, quando
alguns sistemas fisiológicos dão mostras de envelhecimento. Os sinais do envelhecimento já aparecem na
virada dos 30, tal como o leve enrugar da pele e alguns esparsos fios de
cabelos brancos ou pequenas cavidades capilares. Os lábios, o nariz, os olhos,
a tez e a face começam a nos denunciar. Contudo, psicologicamente a coisa é
diferente.
Quando somos crianças os corredores da nossa casa parecem enormes, assim como os quintais e a própria casa. Nosso sistema perceptivo-motor interpreta as impressões sensoriais em dimensões vistas pelo olhar infante. Internamente, isto é, em nosso sistema psíquico em geral, ainda maiores: somos originariamente narcísicos, ao menos imaginária e fantasiosamente. Neste sentido, crescer é diminuir. Diminuir o narcisismo, o egoísmo, o egocentrismo, a onipotência e a perfectude. Se quando crescemos nossa casa diminui e mundo aumenta, nosso psiquismo vai gradualmente reconhecendo seu real valor, significado e tamanho. Não somos tão grandiosos e importantes como “pensávamos” que éramos. Não somos o centro do mundo e do universo. Somos periferia. Somos apenas uma areiazinha a mais em uma imensidão incomensurável de praia. As estrelas, o sol, a lua, as nuvens, as constelações, os astros e o próprio universo não tão nem aí pra gente. Somos diminutos, quase invisíveis.
O neurologista e biólogo Oliver Sacks, recém falecido em agosto passado, ensina que “maturidade não é quando começamos a falar coisas GRANDES, mas quando começamos a entender as coisas PEQUENAS”. Sim, agora começo a começar saber que são nas pequenas coisas onde posso encontrar a minha mais madura maturidade. E, talvez, também possa hoje melhor compreender o poema ASTRÔNOMO INSTRUÍDO, de Walt Whitman (o grande poeta americano do século XIX), que abaixo transcrevo:
Quando
as provas, as cifras, foram postas em colunas bem diante de mim,
E me
foram exibidos gráficos e diagramas, para somar, dividir, mensurar tudo aquilo;
Quando
eu ouvi o que dizia o astrônomo, de onde falava, sob muitos aplausos na sala de
conferência;
Sem
que eu saiba como ou o porquê, vi-me de súbito cansado e saturado,
Até
elevar-me e deslizar plainante, abismando-me em mim mesmo,
Na
brisa da noite úmida e mística, de quando em quando,
Levantando
os olhos em perfeito silêncio às estrelas."
Joaquim Cesário de Mello
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