domingo, 11 de março de 2018

A MEDIDA DE TODAS AS COISAS


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Protágoras foi um grego sofista que viveu entre 480 e 410 a.C.  Talvez sua mais célebre frase tenha sido exatamente esta: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." Todavia, não pretendo entrar aqui hoje com divagações filosóficas sobre o relativismo dentro da visão dos sofistas. Meu intuito é mais modesto, e explico logo.


                Quero falar um pouco sobre a maturidade da mente. Embora amadurecer, em termos psicológicos, pra mim, deva sempre ser um verbo a ser conjugado no gerúndio, a passagem de uma mente puramente infantil para um mente adultificada é uma longa jornada. Alguns, inclusive, nunca chegam até lá.





De início somos ilusoriamente grandiosos, onipotentes, completos e perfeitos. Ledo engano da alma humana em seu estágio mais primitivo e infantil. Embora não fale, pois no início não era o verbo, o psiquismo se sente. E se sente, por imaturidade absoluta, como se ele mesmo fosse tudo, afinal o mundo externo ainda não existe no campo perceptivo da mente humana. Através das experiências e das vivências o Princípio de Realidade vai se impondo mente adentro. Podemos dizer que a o psiquismo vai sendo invadindo pelo mundo, diferenciando, assim, o interno do externo. 


    O amadurecimento biológico antecede ao amadurecimento psicológico. Somos, por exemplo, capazes de procriar a partir e depois da puberdade, porém isso não quer significar que estamos psicologicamente preparados para sermos pais. O maturar do corpo nos leva a nos tornarmos um organismo reprodutivo. Geralmente estamos totalmente crescidos em torno dos 20 anos de idade (os músculos ainda se desenvolvem por mais 10 anos aproximadamente) e assim continuamos até chegar entre os 40/50 anos, quando alguns sistemas fisiológicos dão mostras de envelhecimento.  Os sinais do envelhecimento já aparecem na virada dos 30, tal como o leve enrugar da pele e alguns esparsos fios de cabelos brancos ou pequenas cavidades capilares. Os lábios, o nariz, os olhos, a tez e a face começam a nos denunciar. Contudo, psicologicamente a coisa é diferente. 


Quando somos crianças os corredores da nossa casa parecem enormes, assim como os quintais e a própria casa. Nosso sistema perceptivo-motor interpreta as impressões sensoriais em dimensões vistas pelo olhar infante. Internamente, isto é, em nosso sistema psíquico em geral, ainda maiores: somos originariamente narcísicos, ao menos imaginária e fantasiosamente. Neste sentido, crescer é diminuir. Diminuir o narcisismo, o egoísmo, o egocentrismo, a onipotência e a perfectude. Se quando crescemos nossa casa diminui e  mundo aumenta, nosso psiquismo vai gradualmente reconhecendo seu real valor, significado e tamanho. Não somos tão grandiosos e importantes como “pensávamos” que éramos. Não somos o centro do mundo e do universo. Somos periferia. Somos apenas uma areiazinha a mais em uma imensidão incomensurável de praia. As estrelas, o sol, a lua, as nuvens, as constelações, os astros e o próprio universo não tão nem aí pra gente. Somos diminutos, quase invisíveis. 
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O neurologista e biólogo Oliver Sacks, recém falecido em agosto passado, ensina que “maturidade não é quando começamos a falar coisas GRANDES, mas quando começamos a entender as coisas PEQUENAS”. Sim, agora começo a começar saber que são nas pequenas coisas onde posso encontrar a minha mais madura maturidade. E, talvez, também possa hoje melhor compreender o poema ASTRÔNOMO INSTRUÍDO, de Walt Whitman (o grande poeta americano do século XIX), que abaixo transcrevo:

 "Quando ouvi o astrônomo instruído,
Quando as provas, as cifras, foram postas em colunas bem diante de mim,
E me foram exibidos gráficos e diagramas, para somar, dividir, mensurar tudo aquilo;
Quando eu ouvi o que dizia o astrônomo, de onde falava, sob muitos aplausos na sala de conferência;
Sem que eu saiba como ou o porquê, vi-me de súbito cansado e saturado,
Até elevar-me e deslizar plainante, abismando-me em mim mesmo,
Na brisa da noite úmida e mística, de quando em quando,
Levantando os olhos em perfeito silêncio às estrelas."

Joaquim Cesário de Mello

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