domingo, 10 de dezembro de 2017

SYMPOSION: O AMOR EM DIÁLOGO

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O tema amor talvez não comece com Platão, mas tem nele seu primeiro e original pensador. Em Fedro e O Banquete Platão dialoga com a questão: o que é o amor? O Banquete foi o meu inicial contato com a escrita e o pensamento platônico. Cheguei jovem a este livro provocado por um outro texto A Infância de um Chefe, conto de Jean Paul Sartre. Nele Sartre instiga ao escrever, na voz de um personagem professor, que Freud era um Platão revisado. Como assim?, perguntei-me. Pronto, lá estava eu lendo O Banquete. Hoje, olhando a pequena multidão de alunos por quem transito em meu dia-dia acadêmico, interrogo-me se é possível se aprofundar nas entranhas afetivas da alma humana sem nada conhecer, nem que minimamente, sobre Platão. Provavelmente não. Porém, isso não importa presumivelmente à maioria deles. Para mim, sim. Cada um sabe a alegria e a delícia de ser o que é, dizia Caetano. E a vida continua...
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Normalmente um banquete é um festim, cercado de bebedeiras, comidas e algazarras. Porém em seu livro O Banquete (que em grego é Symposion) Platão privilegia não a desarmonia e o tumulto das vozes em festa, mas o logos surgente no diálogo entre os homens participantes. Vozes que mutuamente se provocam, instigam e refletem. Os diálogos de Platão são suas ideias e filosofia transmutadas em escrita. Seus protagonistas não são totalmente ficcionais, afinal ele se utiliza de personagens históricos como Sócrates, Parmênides e Protágoras, entre outros.
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Em O Banquete temos a presença de Diotima de Mantineia, que ensinou a Sócrates o que é o amor: uma carência cheia de recursos e em perpétuo ir e vir entre eles. O amor (Eros) como filho de Penia (pobreza) e Poros (abundância), por isso seu caráter sempre misto de avidez e preenchimento. Para Diotima, segundo Sócrates, o amor busca o belo, a essência. Tal beleza e essência não estão no intercâmbio sexual, mas sim na melhoria da pessoa que ama e de seu objeto amado. Claro que o texto de Platão não expressa a ideia de um amor descarnalizado, uma espécie de culto à distância, porém um amor impulsionado por Eros (daí ser erótico) que visa o perpetuar do estado de felicidade dos amantes.
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No texto de Platão o Eros socrático é revelado como algo da imperfeição e por isto anseia. E não se anseia aquilo que já se é ou se tem, mas sim aquilo que nos falta. Aqui, na voz de Sócrates, temos a fórmula do amor: "amor é desejo e desejo é falta". Diz Platão claramente: "o que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor".
O amor, o verdadeiro amor, surge na manifestação do belo - belo entendido como essência divina correspondente ao bem. Eros, na tradição grega, é o deus do amor, um poder vinculador e integrador. Quem ama admira o belo que há dentro daquilo que ele ama. O belo e bem que Platão fala representam a sublimação do humano em seu mais alto nível.

(continua em breve)
Joaquim Cesário de Mello

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