O antigo seriado Cosmos - talvez poucos se recordem -, narrado e idealizado pelo astrônomo Carl Sagan, obteve um relativo um sucesso de público ainda na televisão aberta, apesar do horário pouco convidativo - era apresentado tarde da noite, aos domingos. O programa divulgava a ciência, especialmente a astronomia, e foi apresentado nos anos 1980-90 - ainda me espanto em saber que, naqueles anos, um programa desse tipo atraísse um extenso público. Falo isso, porque recentemente, há pouco mais de um ano, fizeram um caprichado remake desse seriado utilizando dos aparatos tecnológicos de imagem em alta definição e dos efeitos especiais da atualidade. Dessa versão, poucos tiveram conhecimento, apesar da excelente qualidade. Conta com a apresentação do físico Neil deGrasse Tyson sob o título “Cosmos: A Spacetime Odyssey”, que em tradução livre seria Cosmos: Uma Odisséia no Tempo-Espaço, inspirado no filme de Kubrick : 2001 uma Odisseia no Espaço, filme de referência na história do cinema - encontra-se ainda nas listas dos melhores filmes .
Cosmos de Neil Tyson é um belo e cuidadoso seriado, daqueles que nos emociona quando o assistimos e nos deparamos com um céu estrelado. Pena que, diferente do passado, o novo seriado restringiu-se a um pequeno público de curiosos e de NERDS. O novo Cosmos tem roteiro diferente do de Sagan, equiparam-se em qualidade, Tyson, contudo, tem autonomia e nos episódios presta homenagens a Sagan, morto precocemente em 1996. Tyson conta-nos, que o conheceu criança e guardou por vários anos um pequeno texto autografado pelo mestre.
Assim como no primeiro episódio do seriado antigo, Tyson reapresenta a mesma analogia do calendário da “criação” idealizada por Sagan. A ideia é simples: todo o tempo, desde da big bang até a atualidade, é incorporado proporcionalmente entre os meses de um calendário anual, naturalmente o big bang aconteceria em janeiro e os dias da atualidade em dezembro. Propõe-se, com isso, dar uma ideia mais ou menos aproximada da dimensão do tempo universal com o tempo de nossa existência. Essa analogia traz conclusões melancólicas. Se a big bang ocorreu no primeiro dia de janeiro, o sistema solar surgirá no começo de setembro - no dia 30 deste mesmo mês, começa a vida na terra. Surpreende-se que os dinossauros, seres tão remotos da história, tenha surgido no dia 25 de… Dezembro (isso mesmo! horas depois do “natal”). Nós humanoides (pasmem!), no dia 31 de dezembro - às 23:50 - dez minutos para terminar o calendário. A humanidade civilizada, tal qual conhecemos nos livros de história, percorre os longos 20 segundos finais desse calendário. Para contar nossa história restou-nos miseráveis 20 segundos, momento pelo qual deveríamos estar muito próximo já de erguer os braços para deseja feliz ano novo e se livrar de dezembro. Dezembro foi o que nos restou.
Assim como no primeiro episódio do seriado antigo, Tyson reapresenta a mesma analogia do calendário da “criação” idealizada por Sagan. A ideia é simples: todo o tempo, desde da big bang até a atualidade, é incorporado proporcionalmente entre os meses de um calendário anual, naturalmente o big bang aconteceria em janeiro e os dias da atualidade em dezembro. Propõe-se, com isso, dar uma ideia mais ou menos aproximada da dimensão do tempo universal com o tempo de nossa existência. Essa analogia traz conclusões melancólicas. Se a big bang ocorreu no primeiro dia de janeiro, o sistema solar surgirá no começo de setembro - no dia 30 deste mesmo mês, começa a vida na terra. Surpreende-se que os dinossauros, seres tão remotos da história, tenha surgido no dia 25 de… Dezembro (isso mesmo! horas depois do “natal”). Nós humanoides (pasmem!), no dia 31 de dezembro - às 23:50 - dez minutos para terminar o calendário. A humanidade civilizada, tal qual conhecemos nos livros de história, percorre os longos 20 segundos finais desse calendário. Para contar nossa história restou-nos miseráveis 20 segundos, momento pelo qual deveríamos estar muito próximo já de erguer os braços para deseja feliz ano novo e se livrar de dezembro. Dezembro foi o que nos restou.
Vivemos um longo dezembro. A ideia de fazer desse mês o fechamento de um ciclos em meio a enormidade universal, revela, com melancolia, a nossa insignificância. Sequer interferimos no grão de areia de nossas decisões. Somos nada. Levamos - e culpamos - a dezembro a experiência dos dezembros anteriores, ou melhor, a não experiência, a sensação faltosa de que nada ou quase nada pode ser feito.
Dezembro faz lembrar a infância, as festas natalinas trazem o sabor de alegrias perdidas, traz desacerto ou desacordo com o tempo. Traz lembrança do céu entre o éter, a substância aristotélico, e o firmamento - o céu judaico, cristão - com um cometa, um meteoro, uma estrela cadente. Por essas razões, dezembro, apesar de quente e abafado, tem hábitos noturnos. Noturno, mas não notívago, pois a esses cabem os outros meses do ano - dezembro se dorme tarde como eventualmente faz uma criança.
Como no calendário de Sagan - que, inclusive, morreu em dezembro - dezembro nos aponta para o começo e para o final. Final do ano, final do ciclo, final das horas, dos tempos. Ferreira Gullar (também morto em dezembro) nos diz:
Perplexidades
a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo
e todo o existir consiste nisto
é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de meu cabelo
e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado
Ferreira Gullar.
Marcos Creder
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