Como
parte dos frequentadores deste blog encontra-se na faixa dos 21/25 anos talvez
não dê pra recordar que em meados dos anos 90 surgiu um best-sellers cujo
título era “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman. Virou coqueluche e moda.
O grande mérito de Goleman, a meu ver, foi indubitavelmente colocar em cena e
destaque o tema em questão que em si mesmo não era algo tão novo assim. Em
1920 Thorndike já utilizava a expressão “inteligência social”, assim como na
década de 80 Gardner construía sua teoria das inteligências múltiplas.
Seja como for, em rápidas palavras, Inteligência Emocional é um conceito psicológico que nos remete à capacidade humana de tanto reconhecer seus próprios sentimentos como os dos outros. Neste sentido estar a se falar das habilidades que pode ter um sujeito para manusear e lidar com suas emoções e com isto propiciar a si próprio um melhor crescimento interno. Venhamos e convenhamos, a palavra Inteligência é uma palavra ao mesmo tempo ampla e ao mesmo tempo vaga, ao mesmo tempo abstrata e ao mesmo tempo genérica. A inteligência não é algo que se resume a tão somente aspectos cognitivos e racionais, pois não somos feitos apenas de entendimentos intelectivos, mas igualmente de percepção, desejos, sonhos, sentimentos e emoções. A dita inteligência é uma função psicológica que quando posta em prática nos ajuda a compreender o significado das coisas e da vida. Todavia, esta capacidade humana de conceituar se faz em um cenário mental onde coabitam afetos, por exemplo.
Pode-se
definir inteligência de várias formas, dependendo do ângulo que se esteja
abordando. Pode-se se dizer que inteligência é a capacidade psíquica de se
fazer deduções a partir de relações e correlações. Também se pode definir como
a capacidade que tem o indivíduo para atuar de maneira eficaz frente e seu meio
ambiente e de se ajustar ao mesmo eficientemente. Outro já pode dizer que
inteligência é a capacidade de lidar com problemas. Freud, por exemplo, já
dizia que era nosso único meio que temos para dominar nossos instintos. Já para
o pensador chinês Lao Tsé inteligência é poder e o verdadeiro poder é controlar
a si próprio. Bertrand Russell, por sua vez, afirmava que enquanto a estupidez
se coloca na primeira fila para ser vista, a inteligência coloca-se na
retaguarda para ver. Discussões à parte, a noção de inteligência parece estar
direta ou indiretamente relacionada à aptidão e habilidade em se lidar e
resolver problemas, assim como a abstração e compreensão de ideias e
linguagens. Com isto volto tema inteligência emocional.
Gerir
emoções é bem menos fácil do que gerar emoções. Se, como se diz, “viver não é
preciso, navegar é preciso”, as emoções orientam nossa navegação. Sem querer me
aventurar em conceituar a dita inteligência emocional (IE), entendo que somos
emocionalmente inteligentes quando sabemos melhor controlar e canalizar nossas
emoções a nosso favor e as situações porque passamos. Para que isto seja feito
é necessário termos a autoconsciência de reconhecer a presença de um sentimento
no momento em que ele se presentifica. Alguém já disse que sentimento que não se pensa é cego. O equilíbrio psíquico e
comportamental passa pelo emprego de certos domínios, tipo: percepção e
identificação das emoções e sentimentos; compreensão e entendimento dos mesmos;
controle emocional e uso das emoções e afetos.
Mas
você, queridíssimo(a) leitor(a), tá pensando que a coisa aí em cima é tão simples
como escrevemos? Nã na nim na não! Em nosso contínuo processo educacional
aprendemos que 1+1=2, que a raiz quadrada de 9 é 3, que a soma do quadrado dos
catetos é igual ao quadrado da hipotenusa (teorema de Pitágoras). Aprendemos
ainda a ler, a escrever e que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral.
Sim, no início de nossas vidas somos iletrados e analfabetos. Aos poucos
deixamos de ser. Porém, e quanto às emoções que sentimos? Também começamos a
vida tanto analfabetos de alfabetos, quanto analfabetos afetivos. Diferente,
entretanto, do primeiro (quando temos consciência de nosso iletramento) no
segundo muitas vezes sequer temos percepção semelhante. Podemos passar a vida
inteira até sem nos darmos conta do que realmente são nossos sentimentos e como
eles funcionam e agem em nossos comportamentos e atitudes. Na escola e nos
livros aprendemos a ampliar nossa bagagem cognitiva e cultural, mas a escola e
os livros pouco nos ensinam a compreender o que sentimos. E, assim, podemos
incorrer na equívoco vital de nos formamos revestidos de elevada capacidade
intelectual, todavia com dificuldades de construir uma vida mais satisfatória e
feliz. O intelecto propriamente dito, e como conduzimos e administrando nosso
mundo emocional, combinam-se naquilo que chamamos de equilíbrio psicológico.
O
filósofo e teólogo francês Blaise Pascal no século XVII já afirmava que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Não é
suficiente notar que o coração bate aceleradamente mais forte junto a alguém, é
necessário saber o que se sente, e no que se sente se é amor ou paixão. Sentimento
é isto: quando podemos significar a emoção que nos afeta e nomeá-la: “sinto
medo”, “sinto raiva”, “sinto amor”, “sinto ciúme”, “sinto tristeza”, “sinto
alegria”, etc. Quando sentimos algo, seja lá o que este algo for, abre-se em
nós uma disponibilidade mental que, por sua vez, gera ações.
As emoções, puramente falando, são reações súbitas a determinados acontecimentos e, geralmente, são acompanhadas de reações fisiológicas repentinas e passageiras. As emoções têm função comunicacional e se relacionam com o mundo de modo geral. Já os sentimentos, ao invés das emoções, têm um caráter mais perene e duradouro, ou seja, se prologam através do tempo. Ou, em outras palavras, expressamos ruidosamente nossas emoções, enquanto que os sentimentos são da ordem do mundo interno da alma humana. Os sentimentos fazem parte da parte oculta que há dentro de nós, mas que pode ser externalizado. E esta diferença apontada aqui entre emoção e sentimento é igualmente visível na própria etimologia da palavra emoção que é derivada do latim emovere que significa ex-movere, isto é, movimento para fora.
As emoções, puramente falando, são reações súbitas a determinados acontecimentos e, geralmente, são acompanhadas de reações fisiológicas repentinas e passageiras. As emoções têm função comunicacional e se relacionam com o mundo de modo geral. Já os sentimentos, ao invés das emoções, têm um caráter mais perene e duradouro, ou seja, se prologam através do tempo. Ou, em outras palavras, expressamos ruidosamente nossas emoções, enquanto que os sentimentos são da ordem do mundo interno da alma humana. Os sentimentos fazem parte da parte oculta que há dentro de nós, mas que pode ser externalizado. E esta diferença apontada aqui entre emoção e sentimento é igualmente visível na própria etimologia da palavra emoção que é derivada do latim emovere que significa ex-movere, isto é, movimento para fora.
Necessitamos,
pois, também aprender mais sobre nossas emoções. Como analfabetos emocionais
desconhecemos a profundidade de nossas entranhas psíquicas e com isto não nos
damos conta que muitas de nossas infelicidades, insatisfações, contrariações e
até mesmo algumas doenças físicas são calcadas em sentimentos negativos
cumulativos. Uma emoção de caráter negativo (raiva, rancor, culpa, medo,
tristeza, ódio, inveja, etc.) mexe quimicamente com o metabolismo fisiológico,
e o acumular de sentimentos “pesados” e “indigestos” provocam reflexos em todas
as áreas de nossas vidas, inclusive no corpo. É como o refrão daquela música: “sentimento ilhado, morto e amordaçado,
volta a incomodar”.
Bem,
claro que todos (eu e você leitor) concordamos que precisamos mais tanto
conhecer os sentimentos e emoções que nos regem, bem como melhor modulá-los
subjetiva e objetivamente. Mas como se faz isso? Como nos instrumentalizarmos
para lidar com mais esperteza ou sabedoria com nossos complexos, múltiplos e
interligados afetos? Como nos alfabetizarmos afetivamente? Tentemos a partir de
agora algumas possibilidades de respostas.
Comecemos
com o que propõe Howard Gardner com a sua Teoria das Inteligências Múltiplas.
A referida visão teórica é uma alternativa interessante ao conceito rígido de
inteligência como uma capacidade inata, geral e única. A leitura unitária da
inteligência não nos parece assim tão inteligente (perdoem-me o trocadilho).
Nossas habilidades cognitivas e humanas são amplas e várias. Assim, tem pessoas
que são boas em memorizar, mas não têm um bom ouvido musical, bem como há
pessoas que têm uma facilidade para o raciocínio dedutivo e para solucionar
problemas matemáticos, contudo são socialmente inábeis, e vice-versa. Em meio a
tantas possíveis capacidade intelectivas destaquemos as inteligências interpessoais
e intrapessoal. A primeira tem a ver com a habilidade do sujeito em compreender
e em responder empaticamente às emoções dos outros, suas motivações, humores e
desejos. A segunda tem a ver com a nossa competência em acessarmos nossos
próprios sentimentos e mundo interno, usando-os em prol da solução de problemas
pessoais.
Permita-me
neste instante uma pequena pausa, visto que o texto está se alongando e na
paginação de um mero blog ele se torna cansativo de ler. Por isto estou
fracionando-o em dois, deixando o complemento para um post a ser publicado a
seguir. Até mais tarde, quando em breve nos reencontraremos.
Joaquim Cesário de Mello
Um comentário:
Texto bem propício para a época. Muitas pessoas precisam exercitar a criatividade lançando mão da IE, para não sucumbir a Depressão de Natal. No meu semi analfabetismo emocional, já tracei algumas estratégias para vencer esse período crítico. Espero que dê certo, especialmente este ano. Primeiro ano de tantos natais que não terei a minha mãe no comando da festa que esqueceram o menino Jesus.
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