As
vezes me pergunto por que as produções cinematográficas nacionais estão, em geral,
tão distantes, do ponto de vista de qualidade, das produções internacionais. E
não precisa ir muito longe para essa constatação, filmes argentinos, por
exemplo, tem se mostrado na maioria das vezes superiores aos brasileiros e o argumento
da falta de recursos, dos custos das produções nem sempre justificam essa má
qualidade. Em verdade, o que vejo, muitas vezes, é falta de talento mesmo, e, paradoxalmente,
parece que quanto mais se gasta recursos, mais precários são os resultados . Um
filme como O Lobo atrás da Porta, uma produção de baixo custo, é uma exceção de filme de boa qualidade do nosso
cinema. Tem boa montagem, excelente texto e roteiro, e boas
interpretações – fato raro no nosso cinema, pois falta cuidado nas direções. Mas
nem sempre nosso cinema foi assim. Na época
do dito Cinema Novo, o Brasil foi referência
de estilo e de uma geração de cineastas. Glauber Rocha, Nelson Pereira dos
Santos, Arnaldo Jabor, Cacá Diegues, nos anos 1960 e 1970, levaram boas produções e reconhecimento aos festivais internacionais. O Pagador de Promessas
de Anselmo Duarte conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1962,
único filme nacional a receber essa
premiação. Apesar de muito dessas produções, já terem sido desgastadas pelo tempo – muitas
fórmulas foram datadas – não se pode
argumentar que o Brasil não tem tradição de cinema. Penso
que o legado deixado do Cinema Novo ou do cinema “de
arte” brasileiro, foram bastante positivos nesse reconhecimento internacional, e
na formação e amadurecimento de profissionais. Acredito, contudo, que o nesse
legado pode ter trazido, por outro lado, algum aspecto negativo. Percebo um certo
pedantismo de alguns cineastas brasileiros influenciados pelo cinema desses
anos. Muitas vezes o resultado desse pedantismo é uma caricatura ou uma farsa do
que foi o cinema final do século XX. Ou se faz filmes cerebrais, "cabeças”, com forte entonação teatral
ou se faz um cinema puramente comercial, que ganham boas bilheterias, com comédias rasteiras.
Falo
disso tudo porque assisti por esses dias a um filme norte-americano que muito
me agradou. Na verdade, seu título foi
quem me fez remeter ao cinema nacional: Álbum de Família. Na década de 1980, suponho, assisti ao filme homônimo baseado na peça de mesmo
nome de Nelson Rodrigues. Naquela ocasião me agradei, embora que, se
assistisse nos dias de hoje, poderia fazer um julgamento diferente, justamente por apontar alguns dos vícios do cinema brasileiro. Mas naquele
filme, o que me impressionou foi o fato
de que seguindo à tradição do teatro rodrigueano, há paulatinamente um
descortinamento de dramas e tragédias familiares que se vê apenas nos recônditos
do desejo. No filme americano, com proposta de roteiro diferente, observa-se, no entanto, um semelhança
na construção do drama familiar. Este se mostra mais sutil que aquele, sutileza que ao invés de atenuar, intensifica os níveis de realismo e de crueldade. Há elementos de tensões
familiares, segredos, desejos incestuosos, sentimentos de fracasso, ou falsas realizações
que os dois filmes questionam, mas que
no filme americano se mostrou, no meu entendimento, mais eficaz.
O filme
tem um elenco primoroso, direção
impecável e cenas impagáveis. Há uma que destaco que me foi extremamente marcante, o dialogo estabelecido num almoço em família. uma cena que poderia ser enfadonha por haver vários discursos se entrecortando. contudo o resultado, foi ótimo, haja vista a qualidade do texto, da construção dos personagens e da interpretação dos atores. Álbum de família, que passou timidamente nos cinemas, surpreende pela forma como os personagens vão - não poderia esquecer de Machado de Assis - mostrando paulatinamente "o legado de suas misérias"
Marcos Creder .
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