Bandeira podia querer ir pra Pasárgada, mas eu não quero ir pro nada. Lá não há rei nem camas, nem mulheres sequer pra se escolher. O nada é a falta de tudo, mas se no nada tudo falta, então no nada faltará a consciência da própria falta. E se no nada me faltar a falta, logo não terei desejos e nem sentirei faltas ou saudades, nem tristezas ou banzos, lembranças ou melancolias. Não há mortos a quem chorar no nada. O nada além de incolor é também indolor. Não há dor, sofrimento ou agonia, aflição, remorso ou qualquer outro padecimento. Depois do nada ninguém mais envelhece ou morre. Talvez seja melhor rever meu medo sobre o nada e sua existência impensável. Ainda assim não quero ir pro nada, já que no nada não há nenhum rosa pra se amar e nem o meu menino pra me evocar.
Se um dia pro nada eu for, desde logo saibam que meu ir é contra minha natureza. Quem depois de mim pensará nos meus pais? Quem depois de mim haverá até de pensar em mim? Após as primeiras e rápidas lágrimas serei de pronto esquecido. Não posso querer ser esquecido, logo eu que não me esqueço dos meus sonhos, logo eu que demorei tanto para ser o que sou, e ainda nem mesmo sei quem sou.
Agarro-me aos sonhos e a memória para não ser sugado pro nada. Lutarei que nem Quixote contra este inimigo silencioso e cego chamado de nada. Enquanto em mim houver esperança sei que não serei nada. O nada é diferente de mim. Nele não posso existir e não existindo então nada mais me interessará. Por isso teimo em negar o nada que, por sua vez, é a própria negação de mim e de tudo. Nego o nada para continuar existindo, tão somente.
Caso quisesse clamar aos céus o que encontraria? O universo e suas parcas estrelas. O universo quase inteiro é mais feito de vazios e silêncios. É como exclamou certa vez o físico, matemático e filósofo Pascal: "o silêncio desse espaço infinito me apavora". Talvez não sejamos apenas nós que estamos sendo aos poucos sugados para o nada. O próprio universo - dizem alguns astrônomos - está prestes a ser tragado para dentro de todo o vazio. Em algum instante nada mais restará no universo, nenhuma partícula ou átomo, nenhuma luz ou memória.
Assim como o poeta Manoel de Barros, "não preciso do fim para chegar". Já sou por dentro tão cheio de vazios. Sussurro-me de silêncios em mim. No ínfimo do meu íntimo sou atemporal e nada me falta a não ser a falta que sentirei um dia de mim. O nada que me espera é antecipado de adeuses.
Desaparecer e inexistir é medo de quem existe. A existência é um breve e rápido tímido suspiro, enquanto a inexistência é um mergulhar irretornável nos porões obscuros da eternidade sem volta. Assim, quando a vida houver em mim vivido, recolherei-me contrariado ao nada e de lá nada mais saberei daquele que um dia fui, daquele que em nenhum dia conseguiu ser e daquele que um dia deixou simplesmente de ser. O nada, um dia, sempre aparece.
Caso quisesse clamar aos céus o que encontraria? O universo e suas parcas estrelas. O universo quase inteiro é mais feito de vazios e silêncios. É como exclamou certa vez o físico, matemático e filósofo Pascal: "o silêncio desse espaço infinito me apavora". Talvez não sejamos apenas nós que estamos sendo aos poucos sugados para o nada. O próprio universo - dizem alguns astrônomos - está prestes a ser tragado para dentro de todo o vazio. Em algum instante nada mais restará no universo, nenhuma partícula ou átomo, nenhuma luz ou memória.
Assim como o poeta Manoel de Barros, "não preciso do fim para chegar". Já sou por dentro tão cheio de vazios. Sussurro-me de silêncios em mim. No ínfimo do meu íntimo sou atemporal e nada me falta a não ser a falta que sentirei um dia de mim. O nada que me espera é antecipado de adeuses.
Desaparecer e inexistir é medo de quem existe. A existência é um breve e rápido tímido suspiro, enquanto a inexistência é um mergulhar irretornável nos porões obscuros da eternidade sem volta. Assim, quando a vida houver em mim vivido, recolherei-me contrariado ao nada e de lá nada mais saberei daquele que um dia fui, daquele que em nenhum dia conseguiu ser e daquele que um dia deixou simplesmente de ser. O nada, um dia, sempre aparece.
Joaquim Cesário de Mello
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