FRALDAS, NINHO E CHUPETAS:
A FAMÍLIA NUCLEAR COMPLETA
Quem casa quer casa, diz o dito popular. Pois é, casamento parece representar a criação de um novo ninho, uma nova morada, uma nova família nuclear. Epa, perá aí! Mas desde o inicio não dizíamos que família nuclear era aquela constituída de um casal com filho(s)? Também não definimos, para efeito operacional da disciplina, que família era um grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco que se incumbe da criação da prole...? Pois é, tá faltando algo. Tá faltando filhos ao casal. Claro que há casais que decidem não ter filhos, ou não podem e não querem adotar. Sim, é verdade. Mas a maioria das pessoas se casam não somente para casarem, mas para construírem eles mesmos suas próprias famílias, incluindo filhos. É como aquele quase mandamento bíblico: crescei e multiplicai-vos. Aliás, não só bíblico, afinal se crescêssemos e não gerássemos filhos não haveria humanidade.
O nascimento de um filho, e mais ainda do primeiro filho, é um acontecimento significativo no seio do casal e da família ampliada. Todo mundo acrescenta mais um grau de parentesco, ou seja, os cônjuges viram pais, os pais do cônjuges viram avós, os irmão dos cônjuges viram tios, e assim por diante.
Para muitos a chegada do rebento
é um momento maravilhoso, mas é igualmente um momento tumultuado em grau maior
ou menor, dependendo das circunstâncias e do casal. Por mais que os futuros
pais se preparem para a chegada do herdeiro, nunca nenhum adulto está
plenamente preparado para as tarefas e funções que a progenitura nos traz. É
necessário um tempo maturativo para que os membros do casal aprendam a lidar
melhor com as novas competências. Engravidar e parir não acaba com a boa vida
do casal, mas modifica radicalmente a vida antes vivida sem filhos. Digamos que
não engravidamos e parimos apenas prole ou filhos, mas também uma nova forma de
se viver.
Maternidade e paternidade são
vividas de maneiras diferentes. O pai, o homem do casal, frequentemente
sente-se como que excluído de uma relação de maior intimidade e proximidade que
é, inclusive, a maior relação de intimidade e proximidade que o ser humano pode
ter: mãe-bebê. Filhos não só nascem, mas provocam mudanças na vida e na
personalidade dos pais. Como pais eles terão a oportunidade de reverter suas
próprias experiências de filhos, só que agora assumindo o outro lado da mesa,
isto é, sendo eles (que um dia foram crianças, filhos) os pais dessa nova
história que começa. Mas será que começa? Ou será que é uma continuação de uma
história antecedente?
O que sabemos é que na chegada de
um filho tem ele, de início, três destinos:
-
há espaço afetivo para ele no seio do casal;
-
não há espaço afetivo para ele no seio do casal;
-
ele vem ocupar um espaço afetivo vazio no casal ou em um dos cônjuges.
Enquanto
na primeira hipótese há clara aceitação do filho e da paternidade e na segunda
rejeição, a terceira é mais sutil e camufla a rejeição. Uma proximidade
excessiva do casal ou de um dos cônjuges com o filho (superproteção, por exemplo),
pode revelar que este filho vem para preencher um vácuo na vida dos adultos.
Seja
como for a chegada de uma criança representa tanto uma mudança social quanto
psicológica no casal. O nascimento é cheio de mistérios, medos e fantasias.
Após o parto o primeiro cenário que se tem é frequentemente é uma forte
aproximidade recém-nascido e mãe (preocupação materna primária) e, de certo
modo, uma exclusão desta simbiose materna-filial da figura do pai. Alguns pais
têm que lutar por essa sensação de perda e exclusão, até que a família se
acomode às mudança e vá encontrando um lugar para ele. A díade do casal muda
seu eixo para uma díade mãe-filho, e finalmente transforma-se em uma tríade
psicologicamente falando.
A respeito do acima exposto, vide
PATERNIDADE: VIVÊNCIA DO PRIMEIRO FILHO E MUDANÇAS FAMILIARES, de Márcia Jager
e Cristiane Bottoli: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872011000100011&script=sci_arttext.
Resumamos
a questão:
-
a chegada do primeiro filho geralmente mobiliza mais do que a chegada dos
seguintes;
-
inaugura-se uma nova família (nuclear);
-
há uma mudança de status e de vida no casal;
-
o casal avança para uma nova etapa desenvolvimental (avança uma geração);
-
quem antes foi cuidado agora passa a ser cuidador;
-
as famílias de origem também acompanham o processo de transformação de novos
papéis e funções familiares;
-
é preciso abrir um espaço físico e emocional para a chegada do filho;
-
reestrutura-se a base da família e os limites com as famílias de origem;
-
é necessário abrir espaço para as díades mãe-filho, pai-filho, marido-mulher;
-
cabe aos pais dos pais (agora avós) passarem a uma posição secundária, no
sentido de permitir que seus filhos (agora pais) assumam e exercitem seus
papéis e autoridade de pais;
-
não existe manual que ensine o casal a serem pais. Cada pai tem de aprender com
seu filho a ser pai/mãe.
LEITURAS SUGERIDAS:
- GRAVIDEZ DO PRIMEIRO FILHO: PAPÉIS SEXUAIS, AJUSTAMENTO CONJUGAL E EMOCIONAL (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722008000200002)
- A TRANSIÇÃO PARA A PATERNIDADE:
DA GESTAÇÃO AO SEGUNDO MÊS DE VIDA DO BEBÊ
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642009000200008
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642009000200008
- MATERNIDADE E PATERNIDADE: A
PARENTALIDADE EM DIVERSOS CONTEXTOS (Editora Casa do Psicólogo)
Joaquim Cesário de Mello
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