Nunca fui a Berlim. Muito provavelmente jamais irei ou terei a oportunidade de ir a Berlim. Mesmo que um dia eu vá, jamais conhecerei a Berlim do filme Familiye. A Berlim pano de fundo é o que se chama de uma cidade paralela. Enfoca o subúrbio pobre de predominância turca, parecendo menos um bairro e mais um gueto onde se vive de pobreza, corrupção, vícios e violência.
A família em questão se resume a três irmãos. Um ex-presidiário em recente liberdade condicional, outro adicto em jogos e o terceiro, Muhammed, que tem síndrome de Down. embora seja um longa de diretores estreantes (Kubilav Sarikawa, Sedar Kirtan e Erhan Emre), e talvez até por isso mesmo, o filme é áspero, rude e um tanto cru. Combina com a história e a cercania da paisagem. Todo o bairro é uma espécie de grande, tumultuada e conturbada família.
Assistir Familiye, totalmente realizado em preto e branco, não nos dá uma sensação de estarmos assistindo uma película, mas sim como se estivéssemos passeando ao vivo pelos arrabaldes cinzentos do distrito de Spandau onde se desenvolve o filme. Não é um passeio turístico, avisamos, mas um andar pelo submundo da cultura turca que habita a cultura alemã. Todavia, se a dureza das ruas se mostra em suas vísceras, o carinho e a ternura dos laços afetivos também mostra a sua cara. Se lá fora a crueza e a luta pela vida impera, dentro do pequeno cubículo onde reside a família a lealdade sobreleva-se.
Como diz o cineasta Kubilay, o filme em questão se resume em uma única palavra: amor, amor entre irmãos tão diferentes, mas tão pertos entre si. A conferir pela Netflix.
Joaquim Cesário de Mello
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