domingo, 13 de agosto de 2017

DISTANCIANDO-SE DA MATRIX

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Constantemente interagimos com representações, imagens, símbolos e signos. Constantemente confundimos eles com a realidade. Um simulacro é por definição uma simulação, uma aparência, um disfarce. Mais precisamente é uma representação simplificada de fenômenos ou processo mais complexos. Uma ilusão só pode nos enganar caso pensemos que se trata de verdade, uma coisa real. O filme Matrix fala disso ao mostrar pessoas vivendo um mundo em que acham que ele é o que é, enquanto de fato ele é outra coisa do que aparenta ser. É como se vivêssemos um sonho acreditando-o sê-lo palpável e concreto. Um simulacro não em si mesmo uma falsidade, mas sim uma impressão de semelhança perfeita.
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Em outro filme, A Busca Pela Verdade, um ouvinte ao ligar para a rádio diz: "Você acha que as pessoas querem a verdade, cara, mas não querem. Elas querem virais, fofocas de celebridades, escândalos, sabe.", quando o personagem central da trama responde: "isso é verdade. As notícias não precisam ser verdadeiras, apenas divertidas... A verdadeira questão é, estamos atrás do que? Se existe um final definitivo, ou só estamos atrás de uma busca sem fim, de nada mais do que prazer?". Interessante diálogo este. Nos joga à reflexão.
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Para o sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard a simulação é modelos de um real sem realidade, ou seja, uma hiper-realidade que transforma a ilusão da coisa real em fato verdadeiro. A hiper-realidade é, assim, uma realidade construída, uma virtualidade originada da cultura de massa. Não soaria destoante ao leitor aqui acostumado a textos mais psicológicos no sentido clássico dizermos que vivemos imersos cada vez mais em uma sociedade bastante virtualizada (é só olhar ao redor ou para si mesmo, principalmente para a tela que está à sua frente). Somos insistentemente bombardeados de imagens. Imagens que refletem a realidade, imagens que escondem a realidade, imagens que mascaram a ausência da própria realidade e imagens que não têm nada a ver com a realidade. Sua obra mais famosa é o livro Simulações e Simulacros.
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No cinema, em 2014 tivemos, Os Desconectados, filme que aborda de maneira bastante direta e inteligente o uso excessivo da tecnologia via facebook, twitter, whatsaps, smartphones, tablets, laptops. Uma cuspida de volta na cara do expectador que, muito provavelmente por isso, não assistiu ao filme. Difícil realmente ver (até para dentro), quem "normalmente" está tão conectado, que no fundo está tão incomunicável e em desconexão. Conexão em rede, sim. Conexão com a realidade, não.
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Em A República, Platão expressa o que ficou conhecido como a "alegoria da caverna". Trata-se da história des pessoa que desde o nascimento vivem acorrentados no interior de uma caverna em tal posição que podem apenas ver seu fundo iluminado por uma fresta que os aprisionados não podem ver por estar atrás deles. De costas para a entrada são forçados a viverem vendo somente as sombras que lhes são projetadas à parede da caverna. Nesta história fabular um dos prisioneiros consegue se desvincilhar das correntes e alcançar a saída da caverna. Lá chegando descobre que o que lhes era verdade são somente sombras projetadas. E mesmo voltando para contar aos demais a sua descoberta, tal homem seria ignorado e ridicularizado pelos que ainda continuam acorrentados e vendo a "realidade" como resquícios sombrios e nebulosos. Em seu mito Platão nos alerta que temos uma visão distorcida das coisas e da vida. O que nós enxergamos são muitas vezes imagens criadas pela cultura e por conceitos e informações que vamos obtendo ao longo da vida. Por isso, diz Descartes, desconfiem dos sentidos puramente. E nos provoca a pensar indagando: "e se tudo que a gente vê e sente forem sensações criadas por algum demônio?". Talvez nem tanto. Mas talvez até que um pouco.

Joaquim Cesário de Mello


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