Uma vez vi um científico: “estudos apontam que o uso de uma medicação X tem eficácia terapêutica em cerca de 60% dos pacientes tratados para depressão”. O estudo foi feito com cem pessoas que antes de tomar a medicação do estudo, fizeram uso de placebo. Quarenta pessoas saíram do estudo por conta da boa resposta ao placebo – portanto, deixaram de ser depressivos. Outros quinze saíram por conta dos efeitos adversos e mais dez sem justificativas notificadas. O resultado é que apenas trinta e cinco pessoas fizeram o estudo até o final, ou seja, em seis semanas, e desses, cerca de dezenove tiveram bons resultados. Se o estudo fosse feito por pessoas céticas, ou mau humoradas, provavelmente teriam descrito que apenas 19% dos pacientes tiveram respostas satisfatórias.
E, assim eu poderia ilustrar vários outros casos de pesquisas estatísticas que ficaram "viciadas" pelos desejos dos pesquisadores. Falo nisso porque saiu recentemente um livro interessante, chama-se "O Doente Imaginado" de Marco Bobbio. Nesse livro traz comentários das parafernálias que a medicina monta e que nada tem de científico. Essa sustentação se dá pela uso da estatística e dos exames complementares – radiografias, tomografias, ressonâncias. Bobbio traz uma metáfora interessante: um homem, um quase atleta, o procurou para saber quanto seria o seu batimento cardíaco normal, levando em consideração sua idade e sua constituição física, durante um exercício. Pergunta simples e de simples resposta, mas o que o autor apontou, nesse questionamento, é que cada vez mais as pessoas dependem de parâmetro tecnológico externos, deixando de lado o que seria mais importante, o parâmetro do conforto e do bem-estar. Preferem saber o que dizem os aparelhos ou os exames – os números não mentem.
Os exames são úteis, mais não são, e provavelmente nunca serão, determinantes, por isso que se chamam de exames complementares. Nesse livro Bobbio lamenta ainda a nova formação médica cada vez mais intolerante aos fenômenos da natureza humana, como o envelhecimento e a morte. Enfim, uma leitura imperdível.
Marcos Creder
Marcos Creder
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