domingo, 3 de maio de 2015

Jubileu de acessos

A palavra Jubileu tem vários significados, mas nesse artigo me detenho ao aspecto festivo que tem em muitas comemorações que envolve o numero 50 - de tradição judaica. Jubileu de Ouro, por exemplo, faz muitas vezes referências aos 50 anos de algum evento. A palavra júbilo, inclusive, também faz referência a alegria, a grande sensação de felicidade. O que quero dizer com essas palavras?

Há pouco mais de três anos eu e Joaquim Cesário, numa conversa informal, daquelas de intervalo entre aulas,  tentávamos  articular temas de nossa área de saber, da área "psi", com temas outros saberes que estivessem  imbricados à psicologia, psiquiatria e psicanálise. E não foi difícil fazer ponte com a arte, a literatura e o cinema - áreas para nós muito preciosas. Desses encontros,  alguns muito breves, veio a ideia de construir esse Blog. A ideia apesar de não ser totalmente original, pois muito da psiquiatria e da psicologia se utilizou da arte como fertilizante da construção dos seus saberes, era-nos instigante. Existem vários artigos da antiga psiquiatria, por exemplo, que citam autores como Tolstoi, Dostoiévski, Cervantes, Shakespeare. Na psicanálise seria por demais repetitivo citar as influências literárias de Freud - por sinal, para quem tem  interesse em aprofundamentos, foi lançado recentemente um  ótimo livro que trata especialmente desse tema, Freud com os Escritores de Edmundo Gomés Mango e  Pontalis.    Ainda em psiquiatria até síndromes  com nome de peça ou de obras literárias foram cunhadas, como síndrome de Otelo e de Munchausen - que tratam respectivamente do delírio de ciúme e fenômenos factícios da medicina. Será que um dia haverá alguma síndrome com nome de nossos poetas e escritores mais recentes? algum título, por exemplo, de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, de Borges?


Enfim, a ideia era fazer,  ao  mesmo tempo, um resgate e um novo formato de compreensão de nossos saberes. Há uma frase muito conhecida que diz que "a arte imita a vida" Fazemos esse percurso nesse blog, mas também fazemos o percurso inverso. Oscar Wilde  dizia que a frase correta seria "a vida imita a arte",  e continua "a vida segura-lhe o espelho" - Quando soube do evento que falei no último artigo sobre a tragédia da aviação na Europa e relacionei com cenas do filme "Relatos Selvagens" - vi apenas recentemente - posso dizer que Oscar Wilde não deixa de ter razão.

A ideia de escrever um blog é sempre boa e bem vinda, no entanto, com a avalanche de artigos virtuais, de links e de páginas que hoje encontramos disponibilizados na internet, uma preocupação natural  se impõe:  as pessoas para quem  endereçamos nossos artigos iria ter acesso?  Saberiam de sua existência? Enfim, teríamos leitores e colaboradores?

Dizem que muitos escritores famosos criavam várias formas de serem lidos. Marcel Proust teria feito um artigo num jornal como se fosse outra pessoa, elogiando Em Busca do Tempo Perdido, alguns escritores chegavam a comprar seus livros, próprios texto, tentavam se fazer best-sellers, Freud em A Interpretações dos Sonhos vendeu menos de trezentos exemplares. Enfim, todos de algum modo, temem a solidão de suas palavras, mas todos acreditaram que deveriam persistir, e, essa foi  também uma de nossas virtudes.

Há poucos dias tivemos a alegria de atravessar a fronteira dos 50.000 (um mega Jubileu)  acessos. O sentimento que tenho é de iniciamos os primeiros  passos de uma longa  e interminável caminhada. Interminável sim. O escritor - ou aquele que escreve -  sempre terá algo mais a dizer por escrito. O texto como diz Borges é algo que no tem fim, sequer começo. Esse blog, portanto, se construiu desde de antes, mas só pôde se tornar palavras escritas, ha cerca de três anos.


Marcos Creder
                
 

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