Em meados da década de 60 do século XX, no fervilhar da contracultura, o Ocidente viu-se como que invadido pelo pensamento Oriental. O "orientalismo" virou uma espécie de moda. A influência Oriental nos movimentos contraculturais da época deixou marcas importantes em nossas ideologias de se viver a vida.
Para quem, por alguma razão, não sabe o que é a chamada contracultura, foi um movimento de contestação social dos jovens da época que, inovando estilos, buscaram romper com padrões familiares e sócio-culturais conservadores para assim criarem outros valores e padrões comportamentais libertários em relação às antigas amarras tradicionais. A partir das raízes beat da geração anterior (anos 50) da contracultura nasce o movimento hippie. Tempos de "paz e amor" e de "i love you bicho", os jovens hippies aproximaram-se de ideias budistas e hinduístas. Com seu grito de guerra "paradise now" a espiritualidade e as drogas tomaram destaques. Sabemos que daqueles paradisíacos tempos a droga parece que veio e ficou. Algo do orientalismo também, como, por exemplo, a prática hoje cada vez mais difundida da meditação.
Meditare em latim significa "voltar a atenção para dentro de si", "desligar-se do mundo exterior". Meditar, portanto, representa ato de intensa concentração mental. A meditação é tão antiga quanto o Egito antigo dos faraós. A prática de meditar é usada desde muito tempo em várias culturas e sociedades orientais, principalmente. Embora muitas vezes associada à religiosidade, a meditação igualmente pode ser praticada sem esse espírito. Como diz Clarice Lispector, meditar é pensar sem palavras sobre o nada. Ou ainda como afirma o filósofo e poeta português Agostinho Silva, "A meditação sem objeto é a seta que se dispara sem que o arco a solte".
Meditar pode ser traduzido com interiorizar e relaxar a mente humana. Normalmente muitos de nós desconhecemos o poder do silêncio. Ignorar os ruídos ao redor, eis o primeiro e grande desafio para quem busca acalmar o psiquismo. Um recurso bastante usado é o de focar a mente no organismo e para tal é fundamental prestar atenção na respiração, no entre sai do ar em nós. Assim fazendo distraímos o cérebro de pensar nos problemas do cotidiano ou no que acontece em nosso entorno. Libertar-se dos pensamentos não significa pensar em nada, pois isto é impossível. Significa não se prender a um o outro pensamento. Para tal fim muitos utilizam-se do mantra. O mantra é o entoar de uma sílaba ou cântico e sua repetição nos auxilia a concentrar a mente. Sabe aquele famoso "om" (pronuncia-se arrastadamente "ooouuummmm"), vem do sânscrito "Om Mani Padme Hum". Om para o hindu é considerado a vibração natural do universo. O primeiro som da Criação, a manifestação do divino em forma. Om Mani Padme Hum, portanto, tem uma tradução literal "da lama nasce a flor de lótus". Daí a mais tradicional postura meditativa ser chamada de "posição de lótus" onde a pessoa se senta com as pernas cruzadas e os pés sobre a coxa contrária. É a imagem mais representativa, por exemplo, da yoga
Aquietar a consciência, atingir a clareza mental, relaxar o psiquismo despreocupando-o, produzir sentimentos positivos, desenvolver a alma humana, eis alguns dos principais alvos da meditação. O parar da consciência periférica e o focar para dentro de si tem sua explicação científica. O cérebro produz ondas elétricas, ondas estas, inclusive, que são medidas pelo eletroencefalograma (EEG). A frequência de tais ondas elétricas são medidas em ciclos por segundos, também chamados de hertz (Hz). Baseadas na atividades neuronal as ondas alternam sua frequência, padrão e ritmo. Tais alternâncias estão relacionadas às alterações do estado de consciência (concentração sono, relaxamento, meditação, estado hipnótico, etc). A atividade mental é um constante ligar e desligar de neurônios por meio de sinapses. O primeiro relato conhecido da atividade cerebral gerando correntes elétricas foi feito por um fisiologista alemão, e a primeira imagem foi feita na década de trinta por Hans Berger (psiquiatra) que criou o EEG.
Alfa: de 13 a 09 oscilações por segundo (estados mentais de relaxamento e sonolência)
Teta: de 04 a 08 oscilações por segundo (sono)
Delta: de 0,5 a 03 oscilações por segundo (sono profundo)
Alcançar o estado mental de relaxamento (Alfa) é o objetivo da meditação. As diminuições das ondas elétricas do cérebro diminuem a ansiedade e permite ao corpo sentir sensações de paz a assossegamento. Chegar ao estado Teta é aprofundar a meditação. Em Teta estamos como que "sonhando acordados". Em Estado Teta podemos alcançar o chamado "transe hipnótico", embora também seja possível o transe no estado Alfa. Expandir a consciência para dentro e transcender a experiência externa é possível a partir de chegarmos entre o estado mental Alfa e Teta.
Fazer meditação, ou seja, alcançar o estado mental das ondas Alfas, é necessário um ambiente tranquilo e silencioso para facilitar o relaxamento e evitar as distrações. Porém não basta somente ficar quieto, é preciso também ir relaxando os músculos, sugere-se começar pelos pés e terminar no pescoço e na cabeça. Lawrence Leshan, em seu livro Como Meditar, afirma que a meditação parece produzir um estado fisiológico de repouso profundo conjugado a um estado mental desperto e altamente alerta, que é o oposto do estado produzido pela ansiedade e pela raiva. O esforço meditativo - lembra-nos o filósofo Ortega Y Gasset - afasta-nos solitários da prais comum, e por rotas recônditas nos conduz a lugares retirados e pensamentos insólitos. Já o mestre budista tibetano, Sogyal Rinpoche, diz que meditar é "trazer a mente ao seu devido lugar".
Seja lá a técnica empregada, meditar passa sempre por tomar consciência da respiração. Tomar consciência dela não representa querer controlá-la, mas apenas deixá-la seguir o seu ritmo, observá-la. Conheça suas pausas e intervalos entre inspirar e expirar. Entre o fim de inspirar e o início de expirar, e vice versa, são os pontos de imobilidade. Apenas aprecie os pontos de imobilidade como quem contempla um lindo por-do-sol. Deixe sua percepção e consciência acompanharem o deslizar da respiração pelos pelos pontos de imobilidade. Os pensamentos que surgirem deixe-os livres e sem envolvimento emocional. Receba os pensamentos como eles são: pensamentos. Mantenha-se atento ao dançante ir e vir da respiração, afinal pensamentos vêem e vão. Não há nada mais presente do que a nossa respiração. Treinemos, pois, a mente para viver cada átimo de se estar vivo, E não há nada mais vivo que aquele que respira. Imersemos, pois, na vida que nos pulsa em cada milionésimo de cada instante.
Quanto mais nos relaxamos e entramos em nós, mais a nossa atividade cerebral diminui. Entre o Alfa e Teta flashes do que nos era anteriormente inconsciente se fazem imagens mentais, e mais a nossa capacidade psíquica criativa se expande. A serenidade predomina. Entramos em um estado algo obnubilado. É como estar analogamente entre o sono e a vigília, aquele estado crepuscular entre estar acordado e dormindo. Praticar habitualmente meditação (que não somente respirar) é preservar o frescor do olhar sobre a vida e a si mesmo. E isto se faz fisiologicamente, entre outras coisas, com o aumento do fluxo sanguíneo no cérebro, com menor batimento cardíaco e com a redução da atividade do hemisfério esquerdo (analítico verbal, pensamento lógico) e com o aumento da atividade do hemisfério direito responsável pelo pensamento simbólico e a criatividade. Elevação, pois, da criatividade, conjugada ao aumento da sensibilidade e sensação de autocontrole são consequências psicológicas da meditação. É como se estivéssemos cultivando a escuta criativa. Os efeitos da meditação podem ser conferidos na seguinte revisão bibliográfica publicada na revista Psicologia: Ciência e Profissão. Para tal vide link http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000200006
Na língua japonesa meditação é Zen. Vem daí a expressão pop "ficar zen". Meditar é mais do que ficar sentado em silêncio observando a respiração. É explorar a quietude que isto provoca. Através de tal exploração podemos chegar a descoberta profunda da consciência que nos habita por debaixo da consciência descritiva e fenomenal. Em estado normal da consciência o Ego, enquanto noção de Eu, nos parece enorme e inteiro. Ilusão da mente que nos leva a achar que somos exatamente como nós pensamos que somos. É preciso melhor conhecer os processos psíquicos que subjazem a imagem que temos de nós. Nosso Ego não é nosso inimigo, ele é resultado de processos mentais que valorizamos e damos destaque em detrimento a outros. Transcender este Ego não é necessariamente destruí-lo ao pé-da-letra, mas sim tomar consciência, através da auto-observação, da estrutura psíquica que nos constrói, para assim usarmos o Ego com mais sabedoria, ou seja, libertar-se da prisão limitante do Ego que descritivamente se conhece. Na visão budista o Ego como o entendemos não é substancial, isto é, uma coisa concreta e puramente verdadeira. Neste sentido não se visa a eliminação do Ego, porém a visão ilusória que nos faz acreditar ser ele verdadeiro.
O que muitos orientais chamam de Zazen é meditar sentado, contemplar o universo em que estamos inseridos através da experiência direta com a realidade (nirvana), por meio da paralisação dos pensamentos cotidianos e pela observação da própria mente. Encontrar a "face original" por meio da iluminação e do sartori. Como dizia Buda, "a paz vem de dentro de você mesmo. Não a procure a sua volta". A paz e a alegria de se viver não está em uma rede à beira mar de uma praia paradisíaca; ela está dentro de cada um de nós. Alcançá-la requer entrar na vacuidade de si. É no aparente nada, onde as palavras não existem, que reside a arrebatadora sensação da alegria da bem-aventurança e do bem-estar subjetivo, uma paz e uma calmaria tão profunda que podemos carregá-la para o resto de nossas vidas. Como se afirma no zen, apreciar o jardim de sua vida com mais colorido.
Meditare em latim significa "voltar a atenção para dentro de si", "desligar-se do mundo exterior". Meditar, portanto, representa ato de intensa concentração mental. A meditação é tão antiga quanto o Egito antigo dos faraós. A prática de meditar é usada desde muito tempo em várias culturas e sociedades orientais, principalmente. Embora muitas vezes associada à religiosidade, a meditação igualmente pode ser praticada sem esse espírito. Como diz Clarice Lispector, meditar é pensar sem palavras sobre o nada. Ou ainda como afirma o filósofo e poeta português Agostinho Silva, "A meditação sem objeto é a seta que se dispara sem que o arco a solte".
Meditar pode ser traduzido com interiorizar e relaxar a mente humana. Normalmente muitos de nós desconhecemos o poder do silêncio. Ignorar os ruídos ao redor, eis o primeiro e grande desafio para quem busca acalmar o psiquismo. Um recurso bastante usado é o de focar a mente no organismo e para tal é fundamental prestar atenção na respiração, no entre sai do ar em nós. Assim fazendo distraímos o cérebro de pensar nos problemas do cotidiano ou no que acontece em nosso entorno. Libertar-se dos pensamentos não significa pensar em nada, pois isto é impossível. Significa não se prender a um o outro pensamento. Para tal fim muitos utilizam-se do mantra. O mantra é o entoar de uma sílaba ou cântico e sua repetição nos auxilia a concentrar a mente. Sabe aquele famoso "om" (pronuncia-se arrastadamente "ooouuummmm"), vem do sânscrito "Om Mani Padme Hum". Om para o hindu é considerado a vibração natural do universo. O primeiro som da Criação, a manifestação do divino em forma. Om Mani Padme Hum, portanto, tem uma tradução literal "da lama nasce a flor de lótus". Daí a mais tradicional postura meditativa ser chamada de "posição de lótus" onde a pessoa se senta com as pernas cruzadas e os pés sobre a coxa contrária. É a imagem mais representativa, por exemplo, da yoga
Aquietar a consciência, atingir a clareza mental, relaxar o psiquismo despreocupando-o, produzir sentimentos positivos, desenvolver a alma humana, eis alguns dos principais alvos da meditação. O parar da consciência periférica e o focar para dentro de si tem sua explicação científica. O cérebro produz ondas elétricas, ondas estas, inclusive, que são medidas pelo eletroencefalograma (EEG). A frequência de tais ondas elétricas são medidas em ciclos por segundos, também chamados de hertz (Hz). Baseadas na atividades neuronal as ondas alternam sua frequência, padrão e ritmo. Tais alternâncias estão relacionadas às alterações do estado de consciência (concentração sono, relaxamento, meditação, estado hipnótico, etc). A atividade mental é um constante ligar e desligar de neurônios por meio de sinapses. O primeiro relato conhecido da atividade cerebral gerando correntes elétricas foi feito por um fisiologista alemão, e a primeira imagem foi feita na década de trinta por Hans Berger (psiquiatra) que criou o EEG.
Distingue-se quatro tipos de ondas mentais, a saber:
Beta: de 14 a 30 oscilações por segundo (estado de vigília)Alfa: de 13 a 09 oscilações por segundo (estados mentais de relaxamento e sonolência)
Teta: de 04 a 08 oscilações por segundo (sono)
Delta: de 0,5 a 03 oscilações por segundo (sono profundo)
Fazer meditação, ou seja, alcançar o estado mental das ondas Alfas, é necessário um ambiente tranquilo e silencioso para facilitar o relaxamento e evitar as distrações. Porém não basta somente ficar quieto, é preciso também ir relaxando os músculos, sugere-se começar pelos pés e terminar no pescoço e na cabeça. Lawrence Leshan, em seu livro Como Meditar, afirma que a meditação parece produzir um estado fisiológico de repouso profundo conjugado a um estado mental desperto e altamente alerta, que é o oposto do estado produzido pela ansiedade e pela raiva. O esforço meditativo - lembra-nos o filósofo Ortega Y Gasset - afasta-nos solitários da prais comum, e por rotas recônditas nos conduz a lugares retirados e pensamentos insólitos. Já o mestre budista tibetano, Sogyal Rinpoche, diz que meditar é "trazer a mente ao seu devido lugar".
Seja lá a técnica empregada, meditar passa sempre por tomar consciência da respiração. Tomar consciência dela não representa querer controlá-la, mas apenas deixá-la seguir o seu ritmo, observá-la. Conheça suas pausas e intervalos entre inspirar e expirar. Entre o fim de inspirar e o início de expirar, e vice versa, são os pontos de imobilidade. Apenas aprecie os pontos de imobilidade como quem contempla um lindo por-do-sol. Deixe sua percepção e consciência acompanharem o deslizar da respiração pelos pelos pontos de imobilidade. Os pensamentos que surgirem deixe-os livres e sem envolvimento emocional. Receba os pensamentos como eles são: pensamentos. Mantenha-se atento ao dançante ir e vir da respiração, afinal pensamentos vêem e vão. Não há nada mais presente do que a nossa respiração. Treinemos, pois, a mente para viver cada átimo de se estar vivo, E não há nada mais vivo que aquele que respira. Imersemos, pois, na vida que nos pulsa em cada milionésimo de cada instante.
Quanto mais nos relaxamos e entramos em nós, mais a nossa atividade cerebral diminui. Entre o Alfa e Teta flashes do que nos era anteriormente inconsciente se fazem imagens mentais, e mais a nossa capacidade psíquica criativa se expande. A serenidade predomina. Entramos em um estado algo obnubilado. É como estar analogamente entre o sono e a vigília, aquele estado crepuscular entre estar acordado e dormindo. Praticar habitualmente meditação (que não somente respirar) é preservar o frescor do olhar sobre a vida e a si mesmo. E isto se faz fisiologicamente, entre outras coisas, com o aumento do fluxo sanguíneo no cérebro, com menor batimento cardíaco e com a redução da atividade do hemisfério esquerdo (analítico verbal, pensamento lógico) e com o aumento da atividade do hemisfério direito responsável pelo pensamento simbólico e a criatividade. Elevação, pois, da criatividade, conjugada ao aumento da sensibilidade e sensação de autocontrole são consequências psicológicas da meditação. É como se estivéssemos cultivando a escuta criativa. Os efeitos da meditação podem ser conferidos na seguinte revisão bibliográfica publicada na revista Psicologia: Ciência e Profissão. Para tal vide link http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000200006
Na língua japonesa meditação é Zen. Vem daí a expressão pop "ficar zen". Meditar é mais do que ficar sentado em silêncio observando a respiração. É explorar a quietude que isto provoca. Através de tal exploração podemos chegar a descoberta profunda da consciência que nos habita por debaixo da consciência descritiva e fenomenal. Em estado normal da consciência o Ego, enquanto noção de Eu, nos parece enorme e inteiro. Ilusão da mente que nos leva a achar que somos exatamente como nós pensamos que somos. É preciso melhor conhecer os processos psíquicos que subjazem a imagem que temos de nós. Nosso Ego não é nosso inimigo, ele é resultado de processos mentais que valorizamos e damos destaque em detrimento a outros. Transcender este Ego não é necessariamente destruí-lo ao pé-da-letra, mas sim tomar consciência, através da auto-observação, da estrutura psíquica que nos constrói, para assim usarmos o Ego com mais sabedoria, ou seja, libertar-se da prisão limitante do Ego que descritivamente se conhece. Na visão budista o Ego como o entendemos não é substancial, isto é, uma coisa concreta e puramente verdadeira. Neste sentido não se visa a eliminação do Ego, porém a visão ilusória que nos faz acreditar ser ele verdadeiro.
O que muitos orientais chamam de Zazen é meditar sentado, contemplar o universo em que estamos inseridos através da experiência direta com a realidade (nirvana), por meio da paralisação dos pensamentos cotidianos e pela observação da própria mente. Encontrar a "face original" por meio da iluminação e do sartori. Como dizia Buda, "a paz vem de dentro de você mesmo. Não a procure a sua volta". A paz e a alegria de se viver não está em uma rede à beira mar de uma praia paradisíaca; ela está dentro de cada um de nós. Alcançá-la requer entrar na vacuidade de si. É no aparente nada, onde as palavras não existem, que reside a arrebatadora sensação da alegria da bem-aventurança e do bem-estar subjetivo, uma paz e uma calmaria tão profunda que podemos carregá-la para o resto de nossas vidas. Como se afirma no zen, apreciar o jardim de sua vida com mais colorido.
Joaquim Cesário de Mello
Um comentário:
Post bem apropriado para um domingo de carnaval. É isso aí, se não foi surtar nas ruas, bora meditar! Namastê! _/\_
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