Continuemos, assim, a abordar
os aspectos promovedores de sanidade e resistência, o que não significa excluir
a importância da patogênese. O bom mesmo é conseguir os dois modelos
(salutogenia e patogenia) em um novo e mais amplo paradigma dos saberes atuais
e contemporâneos.
Vejamos a importância, por exemplo,
do hobby na vida de uma pessoa. Quem tem um hobby passa um bom tempo a ele
dedicado sem se preocupar com as coisas chatas e desagradáveis da vida. Ter um
hobby dá trabalho e é um trabalho sem retorno financeiro. Mas é um trabalho
feito com prazer. Não que o trabalho como atividade com retorno financeiro não
possa ser prazeroso. Claro que pode. É bom e saudável que possa. Porém, o hobby
é um trabalho e um prazer de outra ordem. São duas atividades de qualidades
distintas.
Qualquer coisa ou quase qualquer coisa pode ser um
hobby: colecionar, cozinhar, desenhar, pescar, fotografar, pintar, escrever,
fazer crochê, ouvir música, cerâmica, caçar, jardinagem, criar animais, tocar
instrumento musical, fazer miçangas e bijuterias, e por aí vai... Sabe-se que o
que provoca satisfação gera, por sua vez, uma resposta positiva no organismo
por inteiro, tanto em seus aspectos somáticos quanto os psicológicos.
Exercitar, se puder e quando
der, um trabalho comunitário também é muito enriquecedor à alma. Uma atividade
voluntária junto a pessoas ou grupos de pessoas necessitadas tanto valoriza o
ser humano que necessita de atenção, quanto valoriza a humanidade do próprio
sujeito da ação. A satisfação e o prazer ensejados por um trabalho voluntário de
solidariedade humana é incomensurável. É o tipo da atividade de mão dupla, isto
é, dá benefícios a quem recebe como para quem doa parte de seu tempo para tal
fim.
Estudar, além de ativar a memória, estimula o cérebro em
sua região límbica que nos dá prazer e emoções. Somos banhados de substâncias como
oxitocina e serotonina, além de se manter a mente afiada. O estudo, quando não obrigatório, porém
motivacional, representa efeitos positivos e terapêuticos. Neurocientistas afirmam
que estudar previne a pessoa de doenças e previne ou melhora a depressão. Continuar
mantendo a curiosidade e querer sempre aprender mais sobre as coisas e a vida,
muito contribui para melhorarmos o sentido de autorrealização.
Conjugadamente ao estudar, uma
atividade física igualmente melhora a autoestima, bem como faz bem ao corpo. É aquela
máxima latina “mens sana, corpore sano”.
Ou vice-versa. Lembremos que o sedentarismo é uma porta aberta à depressão. Mexer
o corpo sacode pra cima a alma. As endorfinas
que o corpo em atividade produz aliviam tensões e ansiedades, bem como melhoram
o humor e o bem estar do sujeito.
Os gregos antigos sempre deram
muito valor à amizade. Já dizia Aristóteles: "a amizade é uma
virtude ou está conectada com a virtude, além de ser algo extremamente
necessário para a vida. De fato, ninguém gostaria de viver sem amigos, mesmo
que ele possuísse todos os outros bens". Epicuro edifica suas ideias sobre a felicidade também dando
destaque a amizade. É dele a seguinte assertiva: “De todos os bens que a
sabedoria proporciona para produzir felicidade por toda a vida, o maior, sem
comparação, é a conquista da amizade".
Cultivar
amizades é, indubitavelmente, um bom e sábio remédio contra os males e as
adversidades de se viver. Amizade, amizade mesmo, faz bem à saúde. O isolamento
social e a solidão deprimem, bem como alteram o sistema imunológico e
contribuem para o aumento da pressão arterial, além de outros transtornos
físicos. Estar inserido e conectado em um grupo social significativo e
compartilhar a vida entre amigos contribui para o bem estar subjetivo e social,
assim como para o aprimoramento do sujeito. Desde muito tempo percebe-se que
ter amigo amplia a longevidade. A amizade sincera, autêntica (não essas tipo facebooks), de afinidades mútuas, são mais duradouras e contribuem com a cumplicidade do compartilhamento de
experiências, sensações e sentimentos. Por isto, conclui Aristóteles ao se
indagar o que é um amigo: “uma única alma
habitando dois corpos”.
Hobbys, atividades físicas, estudar, boa rede social, equilíbrio
emocional, práticas e hábitos saudáveis, entre outros, são indispensáveis à
sanidade psíquica e física do indivíduo. Porém, há um outro importantíssimo
elemento que não poderíamos olvidar. Os sonhos. Não os sonhos dos devaneios e
fantasias oníricas, mas os sonhos acordados que nos levam a idear o amanhã. Sonhos
estes que estão diretamente relacionados com o sentido de vida.
Todo ser humano necessita de direção e motivo para suas ações
e, assim, não se sentir “boiando” na vida. Se o ser humano tem um destino, este
é, sem sombra de dúvidas, evoluir e auto realizar-se. O psiquiatra vienense
Viktor Frankl já dizia que “a busca de
sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano”. Tanto assim
considerava que ele criou uma abordagem psicoterápica centrada no sentido da
vida, chamada de Logoterapia. Não é preciso apenas ter o suficiente para se viver (TER), mas ter por que viver (SER).
Neste sentido os sonhos e os projetos de
vida são vitais. Viver o presente o mais intensamente possível não significa
viver apenas um dia de cada vez. É também
imprescindível viver com os pés no presente e os olhos no amanhã. Uma vida vivida
sem futuro é uma vida vivida subaproveitadamente. É no futuro, este tempo
incerto do que há por vir, que colocamos um dos mais importantes sentimentos
humanos: a esperança. Sem esperança a vida perde o significado. Retornando a
Aristóteles mais uma vez: “a esperança é
o sonho do homem acordado”. Um homem sem esperança é uma espécie de morto
vivo. Sempre digo que se um dia fossemos criar uma vacina contra a depressão,
em meio a seus princípios ativos haveria de ter sonhos e esperança. Afinal é um
pouco ou um tanto o que escreveu o escritor Edgar Allan Poe: “A vida real do ser humano consiste em ser
feliz, principalmente por estar sempre na esperança de sê-lo muito em breve”.
Pois é, caro leitor(a), Psicologia também é o estudo e a prática das potencialidades e virtudes humanas que habilitam o ser humano viver de maneira mais humanamente saudável. Junto a antigas questões como angústias, ansiedades, medos, depressão, neuroses, conflitos, obsessões, transtornos, sofrimentos e afins, devem-se agregar novas compreensões de fenômenos igualmente psicológicos, tais como: alegria, esperança, altruísmo, bem-estar, satisfação, contentamento e felicidade. Ambos os lados (patogênico e salutogênicos) são tão humanos quanto é um ser humano. Neste sentido, quanto mais uma pessoa encontra-se equilibrada entre a patogenia e a salutogenia, mais resiliência ela terá para fazer frente aos estressores da vida, e mais aparato ela terá para suportar o sofrimento e superar com mais integridade possível as adversidades que todos temos no caminhar da própria existência.
Pois é, caro leitor(a), Psicologia também é o estudo e a prática das potencialidades e virtudes humanas que habilitam o ser humano viver de maneira mais humanamente saudável. Junto a antigas questões como angústias, ansiedades, medos, depressão, neuroses, conflitos, obsessões, transtornos, sofrimentos e afins, devem-se agregar novas compreensões de fenômenos igualmente psicológicos, tais como: alegria, esperança, altruísmo, bem-estar, satisfação, contentamento e felicidade. Ambos os lados (patogênico e salutogênicos) são tão humanos quanto é um ser humano. Neste sentido, quanto mais uma pessoa encontra-se equilibrada entre a patogenia e a salutogenia, mais resiliência ela terá para fazer frente aos estressores da vida, e mais aparato ela terá para suportar o sofrimento e superar com mais integridade possível as adversidades que todos temos no caminhar da própria existência.
Joaquim Cesário de Mello
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