Segundo o dicionário Aurélio,
erotismo é o conjunto de expressões culturais e artísticas humanas referentes
ao sexo. Assim sendo, como diz o escritor francês Georges Bataille, o erotismo
é uma atividade humana.
Para Octávio Paz, poeta e
ensaísta, prêmio Nobel de Literatura de 1990, o amor e o erotismo derivam da
mesma fonte que é a sexualidade. Temos a qualidade humana de transfigurar o
instinto sexual em erotismo através da imaginação e da linguagem.
O erotismo, repito, acompanha o
homem em sua humanidade. Desta maneira ele também faz parte da literatura e da
arte desde tempos ancestrais. São vários e inúmeros os autores, por exemplo,
que expressaram a temática da sexualidade em peças poéticas. Por palavras,
imagens e/ou estéticas temos um enorme e infindável leque textual e poético
onde o erotismo se revela sem roupa ou vergonha. Desses tantos poetas e seus
poemas, escolhemos alguns poetas brasileiros que utilizaram explicitamente da
linguagem erótica. Sexo e sexualidade também são poesia.
***
Arte de amar
Se queres sentir a
felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
Sossegue coração
sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
Paulo Leminsky
E por que haverias de querer
minha alma
Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Hilda Hilst
Poema ao mais recente amor
Estar entre teus pelos e
dedos,
entre tua densidade,
neste transpirar sob medida
aos teus gemidos.
Estar entre teus trópicos,
entre o teu desejo e o meu prazer;
beber parte de teus líquens e teus rios
percorrendo-te da foz até a origem,
e pura a cada amor partir mais virgem.
entre tua densidade,
neste transpirar sob medida
aos teus gemidos.
Estar entre teus trópicos,
entre o teu desejo e o meu prazer;
beber parte de teus líquens e teus rios
percorrendo-te da foz até a origem,
e pura a cada amor partir mais virgem.
Leila Miccolis
Um Sorriso (*)
Quando
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com meu aceso archote e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui em baixo?
senão colher com a repentina
mão de delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?
com meu aceso archote e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui em baixo?
senão colher com a repentina
mão de delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?
Ferreira Gullar
Mistério
O mistério começa do joelho
para cima.
O mistério começa do umbigo para baixo
e nunca termina.
O mistério começa do umbigo para baixo
e nunca termina.
Afonso Romano de Sant’Anna
‘
Sob o chuveiro amar
Sob o chuveiro amar, sabão
e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?
Carlos Drummond de Andrade
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