A palavra “globalização” é por
demais utilizada e já desgastada nesses tempos de século XXI, e,
representa tudo que há de novo nas relações humanas individuais, sociais,
políticas e econômicas. Alguns supõem
que a inauguração do mundo globalizado se deu com a internet, outros com
a expansão redes de telecomunicações – todas ocorridas no século XX. As conseqüências do mundo globalizado, já tão
discutido, levariam a essa tendência “desumana” de convivência, que,
paradoxalmente, aproxima e distancia as pessoas de seus grupos sociais,
tornando predominante a cultura do individualismo, da desvalorização dos
eventos culturais regionais e do achatamento universal de valores éticos. Isso tudo já foi dito e discutido em algum
lugar.
Recentemente li um livro que
tenta refazer os primórdios dessa globalização sob um aspecto não tão recente
da História. Esse texto se inspira nas pinturas holandesas do século XVII de Johannes Vermeer
(1632 – 1675) - conhecido pelo famoso quadro “A Moça do Brinco de Pérola” –
que, por sinal, não consta entre os quadros analisados no livro.
Ao se contemplar com uma obra de
arte, tenta-se, entre outras coisas, fazer uma ponte entre a imagem da tela e a nossa experiência de
vida. Se se tomasse como exemplo o quadro de Leonardo Da Vinci “a Virgem das
Rochas” (ver acima), um anatomista admiraria o realismo do corpo das crianças,
um cristão católico relacionaria a uma cena
bíblica correspondente, um crítico de artes aos elementos do quadro
renascentista, um biólogo ou um geógrafo estudaria a vegetação e a topografia,
e assim por diante.

Um fato curioso, que o livro discorre em minucia, foi a rápida
mundialização do fumo trazido, originalmente, das Américas, que em apenas
algumas dezenas de décadas – muito mais rápido do que algumas tecnologias do século
XX - já tinha se disseminado por toda
Europa e Oriente. O fumo era tão admirado e elogiado naqueles tempos que os chineses quiseram trazer para si a descoberta dos efeitos do tabaco, incluindo-o,
inclusive, em seu panteão mitológico, com deuses ancestrais supostamente tabagistas. Os europeus mantendo mesmo entusiasmo, destacaram os efeitos medicinais do fumo. Essa curiosidade desperta-me sentimentos ambíguos, de incertezas e – porque não? – na ingenuidade da humanidade em relação a algumas descobertas da ciência, quando uma comunidade é seduzida por promessas de prazer e por elixires mágicos vindo de “Novos" e de velhos mundos. Assusta-me pensar que se esperou por quase quatro séculos para se saber dos danos
provocados pelo tabagismo e que o pensamento dominante podia ser ilustrado pela seguinte passagem:
“De
todos os dons da natureza, o tabaco foi mais potente fator social, o mais
eficiente pacificador e o maior benfeitor da humanidade. De todos os luxos é o
mais democrático, e o mais universal; contribuiu em grande parte para democratizar o mundo”.
Esse fragmento de texto foi escrito pelo sábio
alemão Berthold Laufer sobre a história do fumo em – pasmem – 1924, ou seja, há
menos de noventa anos.
Marcos Creder
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