Um bom roteiro faz a diferença em um filme. Um bom diretor faz a diferença em um filme. Um bom roteiro nas mãos de um bom diretor faz, então, um filme muito bom, principalmente quando o próprio diretor é igualmente um roteirista de sucesso e relevância, que é o caso do grego Yorgos Lanthimos em seu filme O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017).
A história em questão se inicia banal e lentamente. Aos poucos somos levados e perceber que estamos frente a um filme de suspense devido a música de fundo em algumas passagens. A música começa leve e sutil, pouco perceptível. Porém com andar da trama ela se eleva em um clímax de orquestração tal que chega a dominar toda uma determinada cena (aos 40 minutos e 55 segundos de exibição) ao rufar angustiante dos tambores. Touché, estamos fisgados e aprisionados em um enredamento dramático de incertezas e expectativas. Como em toda boa história de suspense a ansiedade nos arrebata. O Sacrifício do Cervo Sagrado é sim um filme de suspense, mas um filme de suspense psicológico inusual e diferente do costumeiro.
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes, o filme resvala para o terror, porém um terror sem imagens de terror do tipo monstros ou assombrações. Um terror feito de emoções contidas, do silêncio dos espaços ao redor (belas imagens em grande angular), da estranheza da ausência das lógicas cartesianas e da excessiva higienização como se o mundo fosse um imenso hospital de longo corredores assepticamente desérticos como os corredores do Hotel Stanley Hotel do filme O Iluminado de Stanley Kubrick. Eis mais um filme com a grife e assinatura de Lanthimos.
O estilo de Lanthimos é por excelência antinatural, isto é, ele prima por buscar incessantemente a desconstrução do liame racional da vida humana e de suas relações sociais. Absurdo por ser ilógico, instigante por ser intrigante, enigmático por ser metafórico, excêntrico por ser bizarro, onírico por ser surreal, engenhoso por ser inteligente e genial por ser original, Lanthimos é um cineasta à parte do que se espera de um cinema industrial.
O Sacrifício do Cervo Sagrado é tenso e aflitante. Incomoda acompanhar a frieza mecânica e letárgica dos personagens. Quem for minimamente conservador não assista o filme. Até para alguns mais afoitos ele pode ser indigesto. Decididamente cinema não é a maior diversão.
O Sacrifício do Cervo Sagrado é tenso e aflitante. Incomoda acompanhar a frieza mecânica e letárgica dos personagens. Quem for minimamente conservador não assista o filme. Até para alguns mais afoitos ele pode ser indigesto. Decididamente cinema não é a maior diversão.
Joaquim Cesário de Mello
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