Hoje é domingo, e tudo parece tão diferente do ritmo e dos sons dos outros dias. Domingo tem ares de nostalgia e de melancolia para alguns, enquanto para outros cheira a churrascos e a salinidade das praias. Ainda há aqueles que reservam o domingo para ver os pais ou avós. Para estes o domingo tem sabor de macarronada e lasanha. Decididamente domingo é um dia desigual e discordante.
Há uma inquietante lentidão nas horas dominicais onde se subverte a ordem natural das coisas. Porém quando o domingo acaba tudo volta a continuar na mesma. Então por que existem os domingos? Kafka já dizia que os outros dias é que são cruciais para se preparar para a chegada deste dia em que somos lançados no confundir dos nossos hábitos e rotinas. Inimaginável uma semana sem domingo. Domingo é um mal (ou um bem?) necessário.
Certo estava Proust quando afirmou que os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem. Creio que se os calendários pudessem falar diriam estranhar os domingos.
Domingo é dia de coçar pentelhos, tomar cervejas, rezar terços e rogar pragas. Domingo é um dia para esconder nosso anonimato e desaparecer.
Os pássaros voam e cantam diferente. O vento sussurra segredos inaudíveis. O sol é mais quente e a chuva mais fria. Até o tédio é mais poético. Não há bocejos que não sejam ruidosos, ou cochilos que não sejam prolongados. A solidão dos domingos é a nossa melhor companhia, inclusive os minutos se tornam indiferentes. Nada se repete nos domingos que se repetem.
As pessoas param mais para conversar. As pessoas param mais para se isolar. Tem os que meditam e os que fogem. Tem os que acordam e os que adormecem. Os homens das segundas, das quintas e dos sábados não são os mesmos das horas dominicais. Até os beijos ficam mais deliciosos.
Devia-se nascer e morrer aos domingos.
Joaquim Cesário de Mello
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