Parafraseando a célebre frase de Simone de Beauvoir "não se nasce mulher, torna-se mulher", ninguém nasce tímido, torna-se tímido. Sim, há bebês que desde cedo demonstram um temperamento introvertido, mas isto não o faz a ser condenado a ser um adulto tímido. Temperamento sozinho não existe. Sabe aquela outra frase do Ortega Y Gasset? Aquela que diz "eu sou eu e as minhas circunstâncias"? Uma vez que bebê sozinho não existe, afinal ele sempre necessitará de um ambiente cuidador, o temperamento, que é uma tendência disposicional, em muito dependerá das respostas do meio em que se vive e se desenvolve a iniciante pessoa humana.
O nosso molde sofre influência do seio familiar em que se vive, ou mais precisamente dos padrões comportamentais de nosso grupo primário, geralmente a família. Se o ambiente em geral tem sua importância, especificamente vital é o principal objeto cuidador ao qual chamamos de MÃE. A mãe, neste sentido, tem papel primordial nas inibições e timidezes de seu filho, seja para o bem, seja para o mal. Em termos positivo podemos resumir que uma mãe que estimula, sem forçar, seu filho inatamente retraído a participar de outros ambientes e que lhe passa confiança e apego seguro que o auxilie a buscar e explorar o mundo está contribuindo para que o filho possa sair do casulo protetor e quietante da dependência, estimulando-o à ampliação de contatos sociais e diminuindo a inibição excessivamente introvertida inicial.
Em princípio timidez nos remete à insegurança e pouca autoconfiança. E isto começa a se construir no início da formação de nossa personalidade, isto é, na infância. Talvez experiências adversas vividas no desenvolvimento de uma pessoa gere um fechar-se em si mesmo defensivo. Um ambiente familiar muito repressor pode provocar um gradual comprometimento na autoestima e na auto-imagem, e a pessoa que vai se formando dentro de um corpo vivo edifica-se sufocadamente. A timidez se instala silenciosamente e transforma também a alma, silenciando-a. a timidez é, tal qual diz o poeta Pablo Neruda, é "como se tivéssemos duas epidermes e a segunda pele interior se irritasse e contraísse perante a vida".
Em interessante estudo realizado por Lynne Crowford e Linda Taylor (2000) aponta que cerca de 60% das pessoas são tímidas. O número elevado é socialmente ocultado pelo retrair silencioso como 0 tímido se comporta, buscando na maioria das vezes passar desapercebido pelos demais. O medo da rejeição é grande e a fantasia de que os outros focam em seus pontos fracos e ruins predomina. Essa retirada muda em detrimento a exposições sociais é descrita no seguinte texto de um poema de Cecília Meireles ("Timidez);
"Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei. "
Joaquim Cesário de Mello
Um comentário:
Interessantíssimo a reflexão .
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