Costumamos situar nossos grandes pensadores num passado remoto que não vivenciamos ou que, se vivenciamos, não tínhamos ainda o intelecto suficiente para conhecê-los mais profundamente. Cientistas como Einstein, Copérnico ou Galileu, escritores como Dante, Cervantes, Flaubert, ou Proust, filósofos como Platão, Espinoza, Nietzsche ou Heidegger parecem terem vividos em momentos gloriosos que pouco tiveram o prazer de conhecê-los - pessoas que pareciam que eram extraordinária diariamente. Tendemos, assim como faz a igreja a católica, a canonizá-los, a colocá-los num lugar sobre-humano, e do, mesmo modo que a igreja, a valorizá-los apenas no post mortem - não existem Santos vivos.
Queria, ainda adolescente, encontrar um machado de Assis, um Camus, ou um Proust perambulando pelas ruas ou ao menos em discurso de jornais. Percebi que faltava a essas pessoas inteligentes ou geniais contemporâneas, o mesmo item cristão – precisavam estar mortos. Acho curioso, mas entendo que o herói, desde do teatro grego, é aquele que viveu no passado, nos salvou de alguma coisa e já não mais existe. O importante é o valor simbólico, muitas vezes mitológico, desses sujeitos. A pessoa viva atrapalha o herói ou o gênio dentro dela. Para serem grandes é necessário estarem mortos. No passado, antes de ter esse pensamento em mente, sentia uma tristeza por viver em anos, supostamente, tão medíocres. Contudo, a mediocridade não estava no tempo, estava na maneira de idealizarmos nossos gênios. Anteontem, ou melhor da sexta-feira para o sábado, tomei mais uma vez ciência desse insight. E não foi não sem motivo. Um desses gênios ou intelectuais mais importantes desse e do século passado, havia morrido. Mais uma vez um grande ícone se construiu em minha consciência, poucas horas depois de falecido. Falo de Umberto Eco.
Um dos interesses que mais me instigavam em Umberto Eco era justamente seu interesse por livros – mas livros em formato de papel. Umberto eco era um grande colecionista e defensor da obra escrita, costumava dizer que o livro foi uma invenção tão importante quanto a invenção do fogo ou da roda. Dono de uma biblioteca com incontáveis livros, Eco guardava um certo saudosismo aos pesquisadores de seu tempo e não poupava críticas às redes sociais – “uma legião de imbecis” – e a internet.Se a história for injusta com esse autor terá que minimamente colocá-lo no lugar dos últimos grande estudiosos que se debruçaram em livros de papel.
Marcos Creder

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