Vivemos cada vez mais a vida correndo. Tudo, ou quase tudo,
parece acelerado. Mal termina algo, estamos imediatamente começando outro algo.
Não apreciamos direito a paisagem. Os relógios não mais nos apontam as horas,
mas nos cobram velocidade e nos pressionam com a mínima ideia de um atraso. Comemos
apressados, andamos depressa, lemos velozmente, vemos ligeiramente, namoramos brevemente,
consumimos rápido. O mundo nos dá uma impressão de ter se tornado um imenso fast food.
Podemos
afirmar que hoje vivemos uma relação diferente com o tempo do que viviam nossos
ancestrais. Eles eram mais felizes ou menos felizes por isso? Provavelmente não.
Porém eles viviam menos deprimidos. A depressão é o mal do final do século XX. Há catorze anos e alguns dias entramos no século XXI e a depressão já é um problema
de saúde pública. Estima-se que quase um terço da população mundial é afligida
por tal morbidade que atinge o corpo, a alma e as relações sociais e funcionais
do sujeito. Hoje ela é a quarta principal causa de incapacitação ao trabalho e,
segundo projeções da OMS (Organização Mundial de Saúde) em 2030 deverá ser não
apenas a principal causa de absenteísmo, como também a doença mais hegemônica
do planeta.
As causas
são várias e muitas delas necessitando serem melhor desvendadas. Entre as
múltiplas causas: o modo como vivemos a vida contemporânea. A maneira líquida
como estamos existindo e o correr pelo tempo tem nos tornado mais vulneráveis
ao estresse, ao abuso de álcool e outras drogas (lícitas e ilícitas), aos transtornos
alimentares e, principalmente, à depressão.
O que
chamamos de alma humana é tecida de tempo, afinal o tempo tem papel
preponderante na construção de nossa subjetividade. E o tempo de agora parece
escorrer mais aceleradamente do que o tempo de antes, embora, do ponto de vista
da medição, uma hora tenha 60 minutos, um dia 24 horas e uma semana 7 dias. Mas
é subjetivamente que o tempo é sentido mais lento ou mais rápido. E é nestes
dois tempos (objetivo e subjetivo) que a condição humana se instala e existe no
tempo de viver.
Maria Rita Kehl, em O TEMPO E O
CÃO: A ATUALIDADE DAS DEPRESSÕES, nos remete pensar a depressão pela
perspectiva do sujeito e sua temporalidade ao destacar que “é necessário buscar, na regulação temporal
que caracteriza a vida contemporânea, os fatores que incidem na constituição do
sujeito a ponto de determinar um crescimento tão expressivo das depressões”.
Lembremos, como nos lembra Maria Rita, que a temporalidade acelerada da vida
moderna (ou seria pós-moderna?) se apresenta pela primeira vez ao ser humano quando
este ainda é um bebê. Esta apresentação primária é realizada pelo cuidador que
chamamos MÃE, afinal ela(e) vive pressionada(o) por uma sociedade que exige
desempenho e eficiência com base no valor que ela dá a vida e que é medido pela
produtividade.
O bebê cresce, vira criança. E também
ela passa a ser submetida às pressões culturais do momento atual, isto é, a
criança passa a viver a infância sobre fatores estressantes contemporâneos,
tais como o aumento de compromissos e atividades a que elas se encontram
inseridas. Escola, balé, natação, curso de inglês, judô, ginástica... a pequena
criança passa a viver como um “mini executivo”. Isto além dos games, dos
facebooks, dos orkuts, twitters, MSM e por aí vai. Tudo rápido, ligeiro, veloz e voraz.
Na temporalidade aceleradamente
vertiginosa da vida contemporânea nos tornamos mais vulneráveis a deprimir. E muitas
vezes nos deprimimos porque carecemos de fertilizar nossas sensibilidades e
afetividades. Priorizamos a adrenalina, buscamos a “vibração” das emoções
fortes. Ou como nos alerta o filósofo Michel Lacroix, em seu livro O CULTO DAS
EMOÇÕES, estamos nos extraviando emocionalmente. Na trepidação que toda essa
adrenalina nos dá, alienamos a nossa sensibilidade. Trocamos, assim, o sentir
pela emoção do agir. O brando e o profundo foram deixados de lado pelo
arrebatamento e pela superficialidade. Ansiamos tanto consumir, consumir e
consumir, que até nos esquecemos do prazer de manter, apreciar e conservar. Mais
viramos copos do que sorvemos a bebida, enquanto comemos sem curtir o sabor. E depois
de um dia inteiro disso tudo e desse corre-corre o que nos resta? Para alguns o
sentimento de vazio de uma alma que se esvazia na liquidez de uma sociedade
líquida. Ou ainda nos dizeres do sociólogo Baumam, praticamos a vida de consumo
como um personagem “solitário, autorreferente e autocentrado comprador que
adotou a busca pela melhor barganha como cura para solidão”.
O tempo parece haver diminuido. Parece que está voando. O desejo de se viver velozmente faz que textos como este se torne longo e cansativo. O jornalista canadense Carl Honoré, em seu livro DEVAGAR: COMO UM MOVIMENTO MUNDIAL ESTÁ DESAFIANDO O CULTO DA VELOCIDADE, destaca que na cultura do tudo rápido vivemos no limite da exaustão, embora não nos demos conta. O preço que pagamos pela velocidade é corrosivo e implacável, por isso defende o autor uma espécie de "movimento pela lerdeza" (slow movement) contra a histeria coletiva da aceleração da vida. Sugere: "encontre momentos em que possa se desligar da tecnologia. Telefones celulares, notebooks e tablets são ferramentas maravilhosas, mas precisamos de tempo para nos desligarmos. Necessitamos de momentos de silêncio, com interrupções para recarregar e refletir". Dificil para alguns leitores plugados em redes sociais e tecnologias, não? Porém saudável. Mentalmente saudável.
Pressa e ansiedade são quase sinônimos.Vivemos ávidos em "ganhar" tempo, e nesta avidez e aceleração o que sentimos é que estamos "perdendo" tempo. Vive-se, assim, a quantidade em detrimento a qualidade. Alguns pesquisadores no campo da saúde mental já criaram até um termo para isso: "doença da pressa". Manias à parte em se querer patologizar tudo, a pressa decididamente nos expõe às doenças físicas e da alma. Com a vida sendo vivida a "mil por hora", cronifica-se o estresse e a ansiedade: portas de entrada à depressão. Somos uma espécie de "otários" da história, pois, deprimindo o tempo, nos deprimimos.
Caso o eventual leitor(a) tenha conseguido até aqui chegar, parabéns. Porém para aqueles que na pressa e agonia desta não tiveram tolerância, fica-se a sugestão: procurem marcar preventivamente, enquanto é tempo, com o Dr. Marcos Creder. Se agora já for tarde, mesmo assim procurem o Creder para tratar de ansiedade e depressão. Sem trocadilhos, não perca tempo. É como escreveu José Saramago: "não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".
Na contramão do sistema, tempo não é dinheiro, tempo é saúde.
Pressa e ansiedade são quase sinônimos.Vivemos ávidos em "ganhar" tempo, e nesta avidez e aceleração o que sentimos é que estamos "perdendo" tempo. Vive-se, assim, a quantidade em detrimento a qualidade. Alguns pesquisadores no campo da saúde mental já criaram até um termo para isso: "doença da pressa". Manias à parte em se querer patologizar tudo, a pressa decididamente nos expõe às doenças físicas e da alma. Com a vida sendo vivida a "mil por hora", cronifica-se o estresse e a ansiedade: portas de entrada à depressão. Somos uma espécie de "otários" da história, pois, deprimindo o tempo, nos deprimimos.
Caso o eventual leitor(a) tenha conseguido até aqui chegar, parabéns. Porém para aqueles que na pressa e agonia desta não tiveram tolerância, fica-se a sugestão: procurem marcar preventivamente, enquanto é tempo, com o Dr. Marcos Creder. Se agora já for tarde, mesmo assim procurem o Creder para tratar de ansiedade e depressão. Sem trocadilhos, não perca tempo. É como escreveu José Saramago: "não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".
Na contramão do sistema, tempo não é dinheiro, tempo é saúde.
Ou, como canta Lenine:
"enquanto o tempo acelera
e pede pressa,
eu me recuso, faço hora,
vou na valsa...
a vida é tão rara".
Joaquim Cesário de Mello
Falou e dizeu!!!! Sem pressa...
ResponderExcluirVivemos no tempo da instantaneidade. Recordo que Perls fala que a ansiedade é o vácuo entre o agora e o depois, e o quanto nos pouparíamos de estresse se vivéssimos no agora com responsabilidade e consciência.
ResponderExcluirExcelente! Já havia percebido tudo isto. Acho que já escrevi sobre em algum lugar. E sempre me pego pensando quando vejo alguém perdido num caminho repleto de... Certa vez perguntei a uma colega de classe sobre um rapaz que tocava numa orquestra, ele estava "entre seus amigos do facebook" e na nossa turma, mas ela desconhecia sobre ele. Incrível, não? Muito do que está escrito aqui fez-me recordar o livro Jovens Sarados, do falecido Padre Léo. Como também A Semente da Vitória de Nuno Cobra. Ambos tem razão quanto o viver de hoje. Inclusive, para quem não leu, recomendo, são ótimos,vale cada centavo. Ler é importante, se o dia tem 24h, tire pelo menos 1h para este lazer. Obrigada pelas palavras. Sempre é bom refletir.
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