O equívoco que quero destacar estão nas postagens que trazem frases de celebridades do mundo da literatura e das artes. Atribui-se, por exemplo, um longo pensamento-poema denominado “Viver a Vida” ao escritor Jorge Luiz Borges. Nele há uma reflexão de um Borges senil, queixado-se dos atos não realizados na juventude. Frases como “a vida é preciosa, precisamos aproveitá-la” ou "não deixe de viver" etc - típicas frases que no facebook se multiplicam como resfriado - povoam o pensamento dos nossos pensadores nas postagens virtuais. Há um problema, contudo: O texto que citei nunca foi escrito por Borges, apesar de já popular e o ter visto estampados em paredes de "Cafés" e em cartões de final de ano assinado pelo falecido escritor. Antes mesmo do facebook ganhar fama, circulou por muito tempo, em grupos de e-mails, uma espécie de relato-desabafo, uma carta de despedida de Gabriel Garcia Marquez em que, reconhecendo-se doente, o escritor, diante da fragilidade do seu estado termina, penintencia-se, pede perdão à Deus pelos suas errâncias e sua descrença. Nesse caso, por sorte nossa e do próprio escritor, que ainda está vivo, bem vivo, Garcia Marquez desmentiu e ainda acrescentou que jamais escreveria tamanha bobagem. Filósofos como Nietzsche, Platão, Sócrates, ou escritores e dramaturgos como Shakespeare, Fernando Pessoa, Arnaldo Jabor, Luiz Fernando Veríssimo, Machado de Assis, Mário Quintana e Clarice Lispector - essa talvez a musa das frases de efeito das redes sociais - sofrem também dessa falsa autoria de textos - textos que, alem de mal escritos, beiram ao ridículo e trazem forte teor moralista.
Qual o propósito disso? Talvez a resposta esteja no próprio formato das redes, onde, como falei, existem muitos amigos, sorrisos, alegria, beleza e fotoshops. Para quê tudo isso? Para investir no narcisismo dos seus integrantes. Para lhes dar um ar de fama e de celebridade, postam seus próprios pensamentos - pensamentos que, adianto, jamais deveriam ser postados. Ao construírem suas frases, postam deliberadamente a assinatura de algum desses famosos. Aliás, suas frases sem a assinatura desses ilustres, certamente, não seriam levadas à sério, contudo, como quem assina é um Shakespeare ou um Fernando Pessoa de ocasião, os outros, seus incontáveis amigos, o elogiem mesmo que em disfarce. Esses escritores “enrustido”, postadores de redes sociais, contentam-se em serem ghost writer de gente de sucesso.
Frases falsas não são fatos recentes, sempre aconteceram, há vários delas descritas na literatura, parece que há um desejo de colocar na boca de alguém uma frase que poderia ter efeito positivo ou repulsivo. As redes sociais as tornaram mais virulentas, danosas e desastrosas. Uma frase mau construída e descontextualizada, faz com que muitos tomem atitudes de repúdio ou de má educação, soltando não raro uma palavra ofensiva.
Enfim, todos se interessam em se exibir e mostrar conteúdos que não têm ou, se têm, são desnecessários ou servem de alimento Narcisismo. Há, contudo, nos sites de relacionamento um outro tipo de narcisismo, um narcisismo às avessas que oculta os sujeitos carentes, sozinhos - quanto mais plugados à rede, mais solitários- e inseguros, que, ao entrar no facebook, vestem o seu Eu fake ideal. Como não há talento no seu dizer os famosos sofrem e começam a falar besteiras .
Marcos Creder
Um comentário:
Imaginei que interessante seria se esse texto não tivesse sido escrito por Marcos Creder.
Reflexão interessante o conteúdo traz. Já ri muito com alguns amigos sobre frases que as pessoas postam no face e até nós mesmo já fizemos algumas piadas com isso.
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