“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. (Platão).
O medo irreal, isto é, sem um estímulo perigoso externo verdadeiro, é um medo vertical. Vertical? Sim, vertical, pois é um medo que vem de dentro, ou um medo que se aprofunda para dentro. Não é da realidade ou de um objeto externo especifico que se tem medo, mas da representação psíquica da realidade ou do objeto. É um medo que atravessa a biografia do sujeito atemorizado. Tem raízes e ecoa lá detrás de sua história. E todo lá detrás de nossa história é sempre a meninice e sua infância.
O mundo é uma enorme estranheza a ser conhecido. Se já dizia Winnicott que não existe bebê sem mãe, também podemos dizer que não existe bebê sem medo. Afinal, qual é a criança, de qualquer idade, que não tenha medo?
Cada pessoa é única. Cada criança é única. Do menino ao homem, cada um ao seu modo e maneira, continuamos carregando alguns monstros e bicos imaginários. Mas embora na fobia haja medo, o medo não é fobia. A fobia é um temos patológico desencadeado por um objeto ou situação específica que não apresenta de fato perigo. Medos antigos desaparecem ou diminuem com o amadurecimento, outros permanecem e até aumentam. Medos novos também podem surgir com o passar do tempo e da vida. Já alguns medos podem virar fobias, enquanto muitos não.
Fobias são medos irracionais que até a própria pessoa que os sente percebe seu absurdo, mas, apesar disto, não consegue dominá-los. Psicodinamicamente se entende que são resultados de conflitos internos do sujeito projetados sobre objetos do mundo externo. Agrupadamente se tipicam em: agorafobias, fobias específicas e fobias sociais.
O cultuado escritor norte-americano Mark Twain já dizia que “coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo”. Sim, não devemos deixar os medos nos dominar. É necessário ter sobre o controle e equilíbrio com os mesmo, saber conhecê-los melhor e melhor conviver com eles quando não pudermos de já superá-los. O medo, em princípio não é nosso inimigo, mas sim uma espécie de sineta ou campainha que nos avisa para tomarmos cuidado e termos cautela com alguma coisa. Sem serenidade o medo pode se transformar em um bicho dominante, enquanto somos nós o seu patrão. Fugir dos medos cujas raízes estão em nosso imaginário e psique é fuga inútil, pois para onde nos abrigarmos ou formos nosso imaginário e psique também lá estará. Pois é, sem enfrentamento não há superações.
É bem verdade que falar é mais fácil do que agir. Evidente que não é fácil enfrentar uma fobia e superá-la. Mas não é porque é difícil que não seja possível. O medo psicológico, não proveniente da realidade em si, embora seja sentido pela pessoa ele não é parte integrante da pessoa, mesmo que até ela esteja já acostumada com seus temores antigos. O medo é retirável sem se retirá-lo, ou seja, é necessário confrontá-lo com a realidade e com suas raízes. Todo medo tem sua raiz. Só podemos conhecê-la se aproximando dela. E um dos recursos que temos para nos aproximarmos internamente de nossos medos é inicialmente compartilhá-lo, razão pela qual pode ser bem indicado uma psicoterapia, que muito contribui para a transformação de sentidos e significados que damos a coisas, situações ou pessoas. O medo tem seus significados – embora elaborados em dialetos afetivos e muitas vezes ilógicos a lógica racional – e é mediante a ressignificação dos mesmos que se pode removê-los sem tirá-los do canto.
Como, então, lidar com o "perigo interno"? Entendo que seja qual for o caminho tomado para lidar com o Minotauro interno ele sempre passa pelo labirinto da alma humana. Ir além e adentro do corpo e suas sensações. Ampliar e compreender os processos afetivos, reconectando a pessoa ao processo formativo de seus medos contundentes. Superar o medo, principalmente o medo do próprio medo, inclusive o de morrer, passa pela aquisição de maior e melhor capacidade em elaborar as emoções. É necessário, pois, ir ao encontro de suas afetações e dos sentidos que a partir delas a mente derivou. Com isso abre-se a oportunidade ímpar a novos sentidos e novos afetos pertinentes.
O assunto agora se estende e merece, portanto, continuação mais adiante. Em breve...
O psiquismo humano é originariamente paranoico. Uma criança pequena pode ter medo de qualquer coisa, até da própria sombra espelhada na parede. Não é a toa que Melanie Klein, que dedicou sua vida ao estudo e atendimento de crianças, denominou o mundo fantasmático do psiquismo infantil do bebê e suas relações objetais iniciais de POSIÇÃO ESQUIZOPARANOIDE. O mundo interno (mental) é primariamente formado a partir das percepções do mundo externo, percepções estas coloridas pelas sensações e ansiedades do próprio mundo interno.
O mundo é uma enorme estranheza a ser conhecido. Se já dizia Winnicott que não existe bebê sem mãe, também podemos dizer que não existe bebê sem medo.
O assunto agora se estende e merece, portanto, continuação mais adiante. Em breve...
Joaquim Cesário de Mello
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