sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CESTA DE VERSO & PROSA






 Ah, o erotismo! O erotismo acompanha o humano em seu caminhar pela vida, ou melhor seria dizer que somos humanos porque somos eróticos? Sensualizamos o sexo. Exaltamos o sexo. O culto ao sexo transpõe os limites da cama e das paredes do quarto de alcova e vai além. Transpira como o suor dos amantes pelas artes, seja ela escultura, pintura, literatura, teatro, cinema, fotografia...
                Segundo o dicionário Aurélio, erotismo é o conjunto de expressões culturais e artísticas humanas referentes ao sexo. Assim sendo, como diz o escritor francês Georges Bataille, o erotismo é uma atividade humana.
                Para Octávio Paz, poeta e ensaísta, prêmio Nobel de Literatura de 1990, o amor e o erotismo derivam da mesma fonte que é a sexualidade. Temos a qualidade humana de transfigurar o instinto sexual em erotismo através da imaginação e da linguagem.
      

        
  O erotismo, repito, acompanha o homem em sua humanidade. Desta maneira ele também faz parte da literatura e da arte desde tempos ancestrais. São vários e inúmeros os autores, por exemplo, que expressaram a temática da sexualidade em peças poéticas. Por palavras, imagens e/ou estéticas temos um enorme e infindável leque textual e poético onde o erotismo se revela sem roupa ou vergonha. Desses tantos poetas e seus poemas, escolhemos alguns poetas brasileiros que utilizaram explicitamente da linguagem erótica. Sexo e sexualidade também são poesia.
***

Arte de amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manuel Bandeira

Sossegue coração 
sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
Paulo Leminsky
 
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.


Hilda Hilst


Poema ao mais recente amor
Estar entre teus pelos e dedos, 
entre tua densidade,
neste transpirar sob medida
aos teus gemidos.
Estar entre teus trópicos,
entre o teu desejo e o meu prazer;
beber parte de teus líquens e teus rios
percorrendo-te da foz até a origem,
e pura a cada amor partir mais virgem.

Leila Miccolis
 
Um Sorriso (*)
Quando 
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com meu aceso archote e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina 
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui em baixo?
senão colher com a repentina
mão de delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?
Ferreira Gullar

Mistério

O mistério começa do joelho para cima.
O mistério começa do umbigo para baixo
      e nunca termina.

Afonso Romano de Sant’Anna
 
Sob o chuveiro amar

Sob o chuveiro amar, sabão e beijos, 
ou na banheira amar, de água vestidos, 
amor escorregante, foge, prende-se, 
torna a fugir, água nos olhos, bocas, 
dança, navegação, mergulho, chuva, 
essa espuma nos ventres, a brancura 
triangular do sexo -- é água, esperma, 
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes? 

Carlos Drummond de Andrade

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