Andei lendo algumas biografias nos últimos meses e observei que a vida
de algumas celebridades, pelo menos da literatura – Dante, Jorge Luiz Borges, Clarice
Lispector, Kerouac entre outros – tem uma duração de quatrocentas ou quinhentas
páginas. Brincadeiras à parte, fiquei me questionando qual seria a
espessura da vida de uma pessoa comum. Alguns certamente diriam que seria bem
menos que de uma dessas celebridades. Especulo, contudo, que a vida das pessoas
comuns tem infinitas e incontáveis páginas. Por quê? Simples. Porque
as biografias tendem a focar um aspecto da vida dos sujeitos, e sua vida
privada circunda em torno de sua obra, ao contrário da não celebridade que tem
diversas nuances, sendo uma delas, a principal, a incansável tentativa de singularizar o que chamamos de “pessoa comum”. A pessoa comum segue o mesmo padrão
do conto de Borges, “ O Livro de Areia”, que narra, em curtas páginas, a história
de um livro sem fim ou começo.
Hitchens além de conservador era um ateu convicto - fato que para quem leu, deveria fazer como Dante, "deixar de fora toda esperança". O livro discorre pouco sobre a vida do autor e faz, na verdade, relata a “ biografia”
de sua doença - um câncer pulmonar, que o levou a morte. Um texto belíssimo,
apesar de denso, sofrido e melancólico, que me remeteu aos tempos de estudante de medicina quando estagiava em hospitais gerais. Não existe algo tão presente para o
estudante de medicina quanto à morte, mas, paradoxalmente, a morte é uma das
palavras menos pronunciadas na angústia médica. Penso que todo estudante de medicina
e de psicologia deveria ao menos dar uma folheada nesse livro. Geralmente os estudantes estão meio
que focados em livros técnicos já consagrados na área como “Sobre a Morte
e o Morrer” – uma espécie de Best-sellers do profissional de saúde escrito
pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross. Proponho que sejamos
mais abertos ao texto leigo. Hitchens nos dá uma aula de relação
paciente-instituição-terapeuta (médico). Insisto em dizer que o texto não técnico
tem muito a nos dizer.
Marcos Creder
Um comentário:
De fato os textos não técnicos tem muito a nos mostrar. As vezes aprendo mais com um romance do que com um livro que fale dos mecanismos psíquicos.
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